Formando escritores de não ficção
Melissa Wilson, palestrante do Ceale Debate do mês de maio, explica como a produção de textos informativos em sala de aula pode contribuir para o letramento escolar
Geral • Quinta-feira, 13 de Junho de 2013, 15:23:00
No mês de maio, o Ceale Debate recebeu a pesquisadora norte-americana Melissa Wilson. Recém-doutora pela Ohio State University, ela tem uma experiência escolar de longa data: lecionou para crianças durante 30 anos de sua vida. Seu trabalho de pesquisa passa pela percepção de que os professores dos primeiros ciclos raramente trabalhavam com atividades de leitura e escrita de textos não ficcionais. A partir da ideia de que esse tipo de texto poderia ser mais explorado com as crianças, Melissa realizou pesquisas em sala de aula, com alunos do primeiro ano escolar. Buscando entender como formar pequenos escritores de não ficção, ela trabalhou com processos de pesquisa, escrita e ilustração de investigações propostas pelos alunos. Em entrevista à equipe Ceale, Melissa explica como esse gênero textual pode ser pensado pelo professor.
1) No Brasil, não é um costume utilizarmos o termo “não ficção” no processo de letramento literário. O que você caracteriza como textos não ficcionais?
No meu trabalho, eu cheguei ao entendimento da escrita de não ficção como uma escrita que conta sobre o mundo. Essa escrita é frequentemente chamada de expositiva, ou mesmo informativa. Para crianças jovens, a escrita de não ficção é frequentemente complicada, devido ao fato de que em livros desse gênero (ou livros informativos) podem aparecer elementos ficcionais. Nos Estados Unidos, por exemplo, há uma série muito popular de livros ilustrados de não ficção para crianças pequenas chamada “The Magic School Bus” (O ônibus escolar mágico). Como você pode perceber pelo título, o elemento de fantasia é introduzido através do uso de um ônibus escolar mágico, que pode encolher e viajar através das veias do corpo humano, enquanto as crianças aprendem sobre o sistema circulatório. Alguns autores referem-se a esses livros como híbridos – não ficção que usa elementos de ficção. Igualmente, em textos não ficcionais escritos para adultos, elementos literários são frequentemente utilizados. Por exemplo, livros de não ficção como “The King of All Maladies” (O Rei de Todos os Males), um livro sobre câncer que é contado através de dispositivos narrativos, com linguagem literária, etc.
2) Como você observou que as crianças lidam com a produção desse tipo de texto? Existem mudanças no decorrer do processo de aprendizagem?
Crianças pequenas precisam de suporte para entender o processo de pesquisa. Na minha investigação, o professor começa ajudando os estudantes a aprender o básico, a fazer perguntas e depois a respondê-las. As crianças fazem isso buscando informações em livros de não ficção, pensando sobre o que as interessou como leitoras e então registrando esse interesse em forma de pergunta. Ao longo do tempo, observamos que o entendimento das crianças acerca da escrita de não ficção tornou-se mais sofisticado. Ao final do ano, eles estavam produzindo relatórios de pesquisa de várias páginas.
3) Como os professores podem incentivar processos de pesquisa como esses?
Isso depende da turma, do professor e do contexto cultural da escola. Uma coisa que eu digo é que os professores precisam introduzir a não ficção para as crianças – ler e falar com eles sobre isso e proporcionar oportunidades para elas escreverem. Algumas pesquisas revelam que muitas crianças pequenas preferem ler textos de não ficção – ainda que não procurem esse tipo de texto por conta própria. Proporcionar oportunidades para que os estudantes possam ler não ficção, falar sobre isso e tentar produzir seus próprios relatos pode ser uma parte natural da aprendizagem inicial.
Leia também a cobertura do Ceale Debate de maio, aqui no portal do Ceale: http://www.ceale.fae.ufmg.br/pages/view/ceale-debate-traz-pesquisadora-norte-americana.html