I Fórum Mineiro de Alfabetização valoriza rede construída nos últimos anos

Fórum contou com Seminário Final do PNAIC. Política pública esteve presente em todas as discussões


     

Acontece • Sábado, 25 de Agosto de 2018, 16:04:00

 

O I Fórum Mineiro de Alfabetização, ocorrido na última quarta, 22, foi marcado por diálogo entre as falas apresentadas. As professoras que compuseram as mesas citaram, endossaram e complementaram umas às outras todo momento. Como disse a Secretária Municipal de Educação de Belo Horizonte Ângela Dalben, “um fórum nos deixa mais livres, para deixar nossas ansiedades e dúvidas e pensar em conjunto”.

A criação do Fórum tem como objetivo criar um espaço permanente em Minas Gerais para discussão de políticas, ações e questões relativas à alfabetização. Na abertura, a professora da Faculdade de Educação da UFMG e diretora do Ceale Valéria Resende destacou em um mapa a representatividade do evento, que conseguiu reunir professoras e professores de dez das 12 regiões do estado.

A partir da palavra “movimento” como mote do primeiro fórum, a diretora do Ceale apresentou os temas propostos para debate: fim do PNAIC e avaliação do Pacto, Programa Mais Alfabetização e BNCC, com foco na Língua Portuguesa e na alfabetização. Valéria chamou atenção para a situação da página oficial do PNAIC, que se encontra fora do ar. “Como que você entra numa página de uma política pública que está ainda em andamento e ela tá fora do ar?”, questiona. Para Valéria, fortalecer o PNAIC representa defender “o direito do professor a ter formação”.   

Questionamentos políticos

Após sua fala, Valéria chamou as autoridades convidadas para a mesa de abertura. Daisy Cunha, diretora da Faculdade de Educação da UFMG, destacou que uma política pública não é feita só de princípios. “Ela deve ser acompanhada de desdobramentos institucionais pra dar conseqüência a esses princípios”, afirmou. Daisy também demarcou o papel das universidades na elaboração de materiais e formações de qualidade. “Entramos nessa política para fazer movimento, para fazer política na direção do direito à educação, mas nós não somos adesistas, tem o momento da inflexão crítica”, defende a diretora da FaE.

A Secretária de Educação Ângela Dalben fez um balanço da situação atual do país, apontando a falta de recursos, e alertando para interesses em “mexidas” de políticas, mas também destacando movimentos importantes que vêm ocorrendo. “Estamos, por exemplo, em um momento, na rede municipal de Educação, de expansão da Educação Infantil e criação de políticas importantes, que dizem respeito ao grande trunfo que temos hoje de pensar esse processo de continuidade entre Educação Infantil e Ensino Fundamental”, contou.

A presidente da Associação Brasileira de Alfabetização (ABAlf) Isabel Frade destacou em sua fala o legado do PNAIC para a articulação em torno da discussão sobre a alfabetização. “A gente está num momento de consolidação de uma rede de articulação muito ampla, que ocorre no Brasil e em Minas”, afirmou. Francisca Maciel, professora da FaE e representante do Grupo de Pesquisa em Alfabetização, e Socorro Nunes, professora da UFSJ e membro da diretoria da ABAlf, também valorizaram os efeitos do PNAIC. “Nós não temos aqui uma semente do PNAIC, nós já estamos colhendo os frutos do PNAIC”, afirmou Francisca. Para Socorro, “não é possível nem formular nem implementar a política pública se não for em rede”.

Já a representante da Secretaria Estadual de Educação (SEE) Gabriela Pimenta, diretora na Secretaria da Escola de Formação e Desenvolvimento Profissional de Educadores, apontou a importância do PNAIC para a aproximação entre as universidades e as redes de ensino. Kellen Senra, coordenadora da UNDIME/MG no Programa Mais Alfabetização (PMALFA), também considerou importante manter essa parceria criada no PNAIC. 

Avaliação do(s) PNAIC(s)

A primeira mesa do Fórum foi dedicada, como planejado, a ser um seminário final do PNAIC. Representantes da formação de sete universidades mineiras apresentaram as peculiaridades de cada trabalho. Valéria Resende, coordenadora de formação na UFMG, explicou as mudanças de dinâmica na última edição do Pacto, iniciada em novembro do ano passado. A professora da FaE também apresentou gráficos para ilustrar a avaliação das cursistas em relação a vários aspectos, como material, palestras e roteiros.

Luana Carvalho, representando a UFOP, discutiu as inquietações a partir do último ano do PNAIC, pensando nos limites e possibilidades. Rita Araújo, Andrea Beloti e Mariana Fontes, da UFJF, evidenciaram algumas das ações realizadas, e como as dificuldades foram contornadas.   

Renata Cunha e Kellen Bernardelli, da UFU, destacaram a diferença da motivação no início do Pacto e agora no final, que contou com uma redução significativa da carga horária presencial. Ana Beatriz Neiva representou a UFVJM, e demonstrou que, apesar de problemas como menor prazo para planejamento, e atrasos nas bolsas das professoras, os depoimentos finais das cursistas valorizam os ganhos que o PNAIC trouxe, como nova perspectiva de pensamento e materiais de qualidade.  

Por fim, Kellen Senra, representando a SEE e a UNDIME, pontuou que o diálogo precisa continuar aberto com as universidades. Também valorizou e agradeceu o trabalho realizado pelos professores “na ponta”, que estiveram, segundo Kellen, empenhados em continuar mesmo com as dificuldades.

Um olhar sobre pontos da BNCC

Durante a tarde, o Fórum foi dividido em três partes. Na primeira, com o tema “BNCC sob crítica - Alfabetização, Leitura e Produção de textos”, a professora aposentada da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG e pesquisadora do Ceale Isabel Frade, a professora da Faculdade de Letras (FALE) da UFMG e pesquisadora do Ceale Delaine Cafiero e a professora aposentada da FALE e também pesquisadora do Ceale Maria da Graça Costa Val apresentaram, uma a uma, suas reflexões acerca da BNCC.

Isabel se focou em apontar questões relacionadas à estrutura mais ampla da BNCC, à leitura da alfabetização nesse documento comparado com outros existentes e as demarcações feitas por ele com a tomada de algumas decisões. Segundo ela, muitos pontos positivos dele foram mantidos desde a sua segunda versão, o que não impede a crítica a certos partes ainda problemáticas.

A professora Delaine, por sua vez, se focou na reflexão crítica a respeito dos conceitos de leitura nos anos iniciais feita pela BNCC e de como lê-los, ao mesmo tempo em que trouxe outras sugestões de abordagem. Para ela, “não se trata aqui de ser contra um documento normativo (...), a questão é buscar coerência nesses documentos que vão impactar a sala de aula e que vão impactar o que nós vamos ensinar nos duzentos dias de aula de cada ano”.

Maria da Graça Costa Val, continuando com as reflexões, focou sua fala na forma como a área de produção de textos é abordada na BNCC. Entre seus diversos olhares, a pesquisadora deu destaque a pontos como a falta, muitas vezes, de uma progressão nítida entre as habilidades descritas no documento, mas sem deixar de demonstrar que existem muitos conteúdos positivos na quarta versão que foram recuperados da segunda.

Construção coletiva de um currículo unificado

Com o tema “Os desafios para a implementação da BNCC e (re)elaboração do currículo único estadual”, a segunda mesa da tarde contou com a presença do coordenador de gestão de implementação de currículo da Secretaria Estadual de Educação (SEE) de Minas Gerais Francisco Mello Castro, que falou acerca das dificuldades presentes e futuras na implementação de um currículo do estado. Para isso, ele compilou sua exposição em três grandes desafios: o estabelecimento de um regime de formação concreto que seja colaborativo; a reorganização das redes para se adequar às resoluções estaduais e da BNCC; e a formação dos professores e uso do material didático.

Segundo ele, “todas essas discussões que são feitas aqui podem efetivamente entrar como contribuição para versão final do documento (...) a versão da BNCC tem várias críticas, mas a intenção nossa como currículo de Minas era tentar minimizar esses problemas que estavam na BNCC e realmente tentar construir um documento nosso, de Minas gerais”. A partir disso, ele deixou o convite para a participação dos profissionais de educação nas discussões que vêm acontecendo em diversos municípios do estado e na consulta pública, que pode ser acessada pela internet até o dia 23 de setembro por meio deste link.

Possibilidades e desafios do Mais Alfabetização

Na terceira e última mesa da tarde, foram convidadas para falar sobre o tema “Programa Mais Alfabetização sob diferentes perspectivas” Daniela Montuani, professora da FaE e pesquisadora do Ceale; Kellen Senra, representando a UNDIME/MG; Sílvia Gracia, representando o CONSED; e Magda Martins Bento, da Secretaria Municipal de Educação (SMED) de Belo Horizonte.

Daniela apresentou alguns pontos do Programa Mais Alfabetização (PMALFA), incluindo o histórico do programa desde antes da sua implementação, destacando o contato com o meio acadêmico e a parceria com as universidades que autorizam seus estudantes a serem assistentes de alfabetização. Além disso, pontuou algumas questões como: quem são esses assistentes e o seu critério de seleção; e se a sua presença garantirá a alfabetização das crianças e tornará mais eficiente o processo, de acordo com as diretrizes do texto do programa.

Já ao falar sobre o Mais Alfabetização, Magda Martins deu destaque a como o programa se desenvolveu na SMED de Belo Horizonte, mostrando o contexto da rede municipal no momento em que ele chegou e as dificuldades logísticas enfrentadas que iam desde a alocação dos estudantes assistentes de alfabetização nas várias escolas do município até a dificuldade de uma formação que envolvesse tantos assistentes.

Por fim, Kellen e Sílvia explicaram a parte burocrática do programa, mostrando suas principais características, sua finalidade, fazendo a leitura de suas diretrizes e mostrando como se deu a sua execução, com isso respondendo questões levantadas pelas palestrantes anteriores. Uma das pontuações feitas por Silvia foi a de que em todo o estado os assistentes foram selecionados obedecendo a portaria do programa. Além disso, ela apontou que “desses 852 municípios, cada um tem suas especificidades, então nós tivemos que adequar também à necessidade de cada município para poder fazer a seleção”.

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Assista ao Fórum na íntegra nos links: manhã | tarde

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