Libertação pela educação
Em missão na UFMG, reitor da Universidade de São Tomé e Príncipe destacou a importância da formação de professores para o jovem país africano
Geral • Quinta-feira, 30 de Abril de 2015, 20:13:00
Em 12 de julho de 1965, as ilhas de São Tomé e Príncipe, na costa africana do Mediterrâneo, se libertavam do domínio português e se constituíam como país independente. Quase quatro décadas se passaram até que a primeira universidade pública do país fosse criada: em 2014, a Universidade Pública de São Tomé e Príncipe (UPSTP) foi fundada, processo que recebeu a contribuição do governo brasileiro - em especial, de duas universidades federais: a UFMG e a Unilab.
Enquanto ainda começa a construir sua história, a UPSTP também conta com outra parceira com a UFMG: um projeto de intercâmbio de professores e alunos de Pedagogia promove a formação intercultural de educadores dos dois países (coordenado, na UFMG, pela professora Francisca Maciel, pesquisadora do Ceale). Em missão na UFMG no mês de abril, o reitor da Universidade santomense, Peregrino Costa, falou ao portal do Ceale sobre esta iniciativa e sobre a importância da formação de professores para um país tão jovem. “Um dos fatores de libertação do homem é a educação, e a educação não se faz sem educadores, que não se fazem sem a formação de educadores.”
Por Guilherme Rabello
Em Setembro de 2013, o então reitor da UFMG, Clélio Campolina, esteve em São Tomé e Príncipe, em uma missão do governo federal que tinha como objetivo contribuir para a criação da primeira universidade pública do país. Hoje, quando a UPSTP completando um ano, gostaríamos de saber como foi essa contribuição da UFMG, e quais os principais objetivos de sua visita agora.
O governo de São Tomé e Príncipe pediu ao governo brasileiro um apoio para a instituição pública. Nós já tínhamos um Instituto Politécnico, que ministrava cursos superiores, mas não dava resposta às necessidades de formação e inspiração no país. Por essa razão, o governo de São Tomé pediu, e foi um pedido muito bem acolhido pelo governo brasileiro, que conseguiu designar estas duas universidades, a UFMG e a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), para nos apoiar nesse sentido. O reitor Campolina, pela sua experiência, conseguiu compreender rapidamente as nossas necessidades imediatas, e recomendou-nos pensar em quatro áreas básicas para a universidade: Saúde, Educação, Engenharias/Agricultura e Ciências Humanas.
Hoje, minha presença aqui tem a ver sobretudo com um projeto de formação de professores de São Tomé e brasileiros, para o ensino da escrita das crianças de classe primária, e, aproveitando que há agora um novo reitor, estamos conversando sobre os futuros passos para um apoio da UFMG à nossa Universidade.
Sobre este projeto de formação de professores, que existe há dois anos, já foi possível perceber resultados para a UPSTP e para a educação de São Tomé e Príncipe de maneira geral? Quais resultados o senhor destacaria?
De maneira geral, os resultados são visíveis a partir do momento em que participam alunos e professores, e até participam alunos de mestrado e doutorado, o que significa que uma investigação do processo também está sendo feita. Os resultados na questão da educação, naturalmente, não são sempre visíveis nas primeiras horas. Nós estamos a fechar o segundo ano do projeto, para nós, positivo. Deu para que os nossos professores e alunos pudessem perceber a diferença do ensino do Brasil e de São Tomé, junto com os colegas brasileiros. Sei que os nossos alunos e professores aprenderam bastante com a vinda para cá. Assistiram a várias aulas de diversos professores, assim como os daqui que vão para São Tomé. E, portanto, acho que é um projeto bom para a nossa universidade, para os nossos professores e alunos.
Em relação aos estudantes e professores santomenses que vêm estudar aqui no Brasil, o que eles destacam dessa experiência em seu retorno? Algo chama mais a atenção sobre a universidade e a educação no Brasil?
Eles destacam muito o relacionamento entre professor e aluno, no sentido positivo. Eles sempre assinalaram a facilidade de como se relacionaram com os professores. Há a preocupação se o aluno está realmente aprendendo, e nesse aspecto o projeto ganhou bastante. Já vêm mais dois professores este mês e acredito que a situação possivelmente será melhor, porque são professores já com mais anos de experiência. São professores que já passaram por muitos outros projetos, sabem bem como se relacionar e, portanto, julgo que quando chegarem, a interação será ainda melhor.
Esse projeto é voltado atualmente para formar professores dos primeiros anos do ensino fundamental. Há planos de expandir para professores dos anos finais do ensino fundamental, de ensino médio, ou até mesmo de graduação?
Esse projeto especificamente provavelmente não terá essa possibilidade. Se tivesse, era bom, porque, como se sabe, o nosso país vai fazer 40 anos de independência. Libertamos o país do jugo colonial, mas ainda não libertamos o homem. Um dos fatores de libertação do homem é a educação, e a educação não se faz sem educadores, e educadores não se faz sem a formação de educadores. Daí o valor desse projeto que o Brasil quer para São Tomé. Porque está a ajudar, a formar os nossos professores que irão trabalhar na formação e libertação do nosso povo e, portanto, se esse projeto pudesse continuar para outros níveis, seria uma maravilha, mas, se não, apenas se pudermos continuar esse projeto atual e aprofundar mais, aí as vantagens já percebidas serão maiores.
Para finalizar, em relação à educação básica de São Tomé e Príncipe, quais são os maiores desafios? E como esta parceira com a UFMG tem ajudado a superá-los?
Nós estamos a falar de uma universidade, a UFMG, que tem muita experiência na formação nos mais diversos níveis. A formação dos professores é uma área de grande experiência para a UFMG e, portanto, nós estamos acabando de fazer com que o ensino básico tome forma, e isto irá de certa forma ajudar-nos. Quando se fala da formação de professores, eu penso no mais alto padrão, o que pode ser oferecido pela UFMG, que está em um padrão internacional bastante aceito e, portanto, é o que nós estamos a precisar. Nós queremos agora é a liberdade do homem, e a liberdade do homem bem formado ganha-se muito facilmente.