Livros para todos

Acontece • Sexta-feira, 08 de Novembro de 2013, 13:02:00

A segunda mesa do X Jogo do Livro tratou questões referentes à produção editorial de livros infanto-juvenis, bem como sua avaliação e distribuição em bibliotecas e entre os alunos. As professoras Aparecida Paiva, Leila Barros e Ana Paula Mathias Paiva compuseram a mesa, articulando três contextos: o do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), o da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte (SMED) e a recepção e circulação dos livros-brinquedo.

Aparecida apresentou dados sobre a participação do Ceale na avaliação pedagógica no PNBE, que seleciona e distribui livros infanto-juvenis nas escolas.A pesquisadora explicou um esquema que ilustra como o programa funciona, desde seu financiamento até a logística. “Ninguém pode dizer que o Brasil não investe ou não tem uma política pública de distribuição de livros”, diz Aparecida, mas ressalta que é necessário estreitar o diálogo entre o PNAIC e o PNBE. Segundo ela, em muitas escolas os livros são distribuídos, mas permanecem fechados em caixas por anos.

Além disso, Aparecida Paiva denunciou o caráter mercadológico dos programas de distribuição de livros, que são vistos como grandes oportunidades de venda pelas editoras. Como cada editora pode candidatar uma quantidade determinada de livros, elas investem muito mais em obras para os anos iniciais do Ensino Fundamental do que do Ensino Infantil, porque os critérios de seleção são menos rígidos. A grande maioria dos livros inscritos é de prosa, o que prejudica a heterogeneidade de gêneros na etapa de seleção.

Leila Barros discutiu a política de distribuição da SMED, que distribui livros para os alunos em kits literários de duas obras por criança. Após a licitação e compra das obras, a Secretaria enfrentava alguns desafios ressaltados por Leila, como a distinção dos destinatários: como definir quais livros irão para as bibliotecas e quais livros irão para os estudantes? PA distribuição entre os alunos requer uma seleção muito mais minuciosa, o que atua como mais um fator de complexidade.

Mais uma vez a questão do mercado se cruzou com a qualidade dos livros distribuídos: Leila relatou erros de tradução em obras estrangeiras e adaptações, relacionados à pressa na publicação, provavelmente pela editora ter certeza que determinada obra seria selecionada para o projeto. Ela também desconstruiu a ideia de que as crianças não valorizam os livros fornecidos pelo governo municipal: “Isso é um senso comum. É necessário fazer uma pesquisa para saber o que de fato acontece com esses livros”, opinou.

Por fim, Ana Paula Mathias Paiva trouxe à mesa alguns exemplos de livro-brinquedo e deu início a uma análise de como esse gênero tem ganhado espaço no Brasil. A pesquisadora deixa claro que livros comuns ainda são caros para a grande maioria das pessoas, o que torna os livros-brinquedos ainda mais inacessíveis.

O fascínio das crianças pelos livros-brinquedos é inegável, mas, segundo Ana Paula, a tecnologia gráfica não pode se sobrepor ao gênero literário. “O excesso é uma armadilha para a formação de leitores”, diz. A pesquisadora exemplifica, dizendo que é comum que livros-brinquedo sequer apresentem autoria, já que a atenção é muito mais relacionada à questão gráfica do que ao texto em si. Apesar das ressalvas, ela recomendou aos colegas que recebam de braços abertos esse novo gênero e que se estude e reconheça sua capacidade de formação de pequenos leitores.