Mais que um instrumento

Livro infantil “Quem inventou o lápis?”, de pesquisadoras do Ceale, conta às crianças a história do objeto usado para escrever


     

Geral • Domingo, 24 de Junho de 2018, 14:24:00

 
“Responder quem inventou o lápis é muito difícil. Mais fácil é passear pelo tempo para conhecer a sua história”. Assim o leitor é advertido no início de Quem inventou o lápis?, das pesquisadoras do Ceale Isabel Frade e Zélia Versiani, com ilustrações de Tatiana Kawanishi.
 
Lançado ontem no Espaço do Conhecimento UFMG, Quem inventou o lápis? conta como, com o passar do tempo, os vários objetos que podem ser usados para riscar foram utilizados em contextos específicos e de acordo com as suas possibilidades até se transformarem no lápis que conhecemos hoje.
 
O livro faz parte da coleção “Universidade das Crianças”, do selo infantil Estraladabão da Editora UFMG. A coleção é resultado do projeto de divulgação científica de mesmo nome da UFMG. Os livros da coleção foram elaborados a partir de perguntas feitas por crianças e, a partir de seus questionamentos, especialistas escolheram uma pergunta para responder. 
 
Apesar de os livros da coleção “Universidade das Crianças” serem informativos, Isabel e Zélia afirmam que intenção não é fazer um livro didático. “A gente tem uma série de livros paradidáticos que às vezes resvalam para um didatismo, para muita informação, com pouco tratamento da linguagem infantil e com uma ilustração empobrecida, sem muito apelo à construção de novos sentidos”, analisa Isabel.
 
 
As pesquisadoras do Ceale Isabel Frade e Zélia Versiani (esquerda) no lançamento dos livros Quem inventou o lápis?, Pra que serve a Arte? O que é um livro?, da Editora UFMG.
 
Para isso, Isabel conta que ela e Zélia, junto com a ilustradora Tatiana, preocuparam-se em explorar mais a linguagem em Quem inventou o lápis?. “A ilustração dos livros nem sempre repercute o texto, ela enriquece. Então [é] uma forma da gente passar conhecimento científico, brincando com a linguagem e pensando num leitor mais ativo, que hoje é muito preparado pra ler imagens, produzir novos sentidos, com tanta produção cultural que tem hoje pra criança”, explica.
 
Zélia conta que tanto ela quanto Isabel nunca escreveram para crianças, o que necessitou bastante diálogo: “houve muita discussão entre nós duas até chegarmos num tom, que nós achamos legal pra crianças pequenas.”
 
A escolha da pergunta foi devido à linha de pesquisa das professoras aposentadas da Faculdade de Educação da UFMG. Zélia é da área da literatura e Isabel se dedica há anos à temática da cultura escrita do ponto de vista histórico.
 
“A gente tem uma força muito grande da materialidade na produção da escrita. Isso é pouco trabalhado, como se a escrita fosse solta no ar, independente do papel, da borracha, de um lápis”, aponta Isabel.
 
A pesquisadora explica que isso repercutiu muito nas práticas de escrita na sociedade em cada tempo histórico. “A gente tem feito algumas pesquisas sobre usos e apropriações de instrumentos de escrita. Então foi pensando nisso que veio esse conhecimento agregado de pesquisa para discussão com crianças desses modos de usar os instrumentos.”
 
Diante do atual tempo cada vez mais digital em que vivemos, muitas pessoas se questionam se a escrita vai acabar. Zélia nota que “é interessante ver como ele [o lápis] permanece ainda hoje. Tantas outras tecnologias muito mais sofisticadas da escrita e o lápis permanece parecido com a forma como ele surgiu.” 
 
“As pessoas pensam que o lápis acabou, que a escrita manuscrita acabou. Então nada como retomar o lápis, essa invenção tão simples, mas tão interessante do ponto de vista de poder atingir praticamente todas as crianças”, defende Isabel.
 
Universidade das Crianças
 
Conheça o projeto de divulgação científica da UFMG, que trabalha com crianças em oficinas e na produção de curtas de animação, textos ilustrados, áudios e livros: