Matemática rima com quê?
Orientadora de estudos registra, com paixão e poesia, os momentos de formação do Pacto
Letra A • Quinta-feira, 13 de Agosto de 2015, 15:07:00
Por Poliana Moreira
E era assim, sem deixar escapar nenhum detalhe, que Patricia Assaf registrava tudo o que acontecia durante os dias de capacitação do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa na Faculdade de Educação da UFMG. Os poemas em que narrava cada detalhe do que havia acontecido ali sempre eram usados para finalizar as atividades do grupo, sob os ouvidos e olhos atentos dos colegas. “Ninguém saía sem o poema. Até nos dias em que eu não estava bem, como quando eu estava com dor de garganta, pediam o poema.”
Questionada sobre o processo de registro, ela conta que tudo ocorria com naturalidade: “Eu assistia às aulas e ia anotando, não perdia um momento, afinal, aquilo era precioso para mim.” A professora acabou se destacando no grupo por prestar atenção nos conteúdos, participar de tudo o que estava acontecendo ao mesmo tempo em que escrevia seus poemas, sempre prontos ao final de cada aula. Patricia conta que, por sempre fazer isso em diferentes lugares e momentos, conseguia elaborar os poemas descritivos com rimas com facilidade: “Eu gosto muito de poemas. Estudei literatura no curso de Letras e sempre foi algo que me chamou muito a atenção.” E ainda afirma que a estratégia ajuda no aprendizado: “Eu uso com os meus alunos até hoje, creio que ajuda a apreender o conteúdo com mais facilidade.”
A tarefa de orientar
Completando o ciclo de capacitação do Pnaic, Patricia repassava os conteúdos aprendidos para uma turma de 25 cursistas em Santa Luzia (MG). Foi com surpresa e honra que ela assumiu esse novo desafio: “Eu encarei a tarefa como uma responsabilidade grandiosa, pois, em nível de capacitação, o Pnaic foi uma das maiores que eu já vi, mobilizou o Brasil inteiro.”
No primeiro momento, houve uma certa relutância das cursistas, como comenta Patricia. “Imagine trabalhar dois horários e depois sair para uma formação que durava até dez da noite”, explica. Para atrair a atenção das cursistas, foi necessário inovar, pois, segundo a orientadora, “elas poderiam pensar que tudo seria feito com palestras exaustivas”. Para evitar isso, além de desenvolver as atividades próprias do Pnaic, Patricia também deixou sua marca pessoal por meio de seus poemas. “Elaine e Gláucia [formadoras de Patricia na UFMG] pediram para que eu fizesse isso também com as minhas cursistas, então nós fazíamos junto com as atividades.”
O vínculo afetivo com suas alunas acabou se tornando bem forte. “Eu tinha um relacionamento interpessoal exímio com cada uma delas, de manter contato todos os dias por e-mail e sempre respondendo as dúvidas e os questionamentos”, afirma. “Foi algo de muito companheirismo, de muito aprendizado realmente em conjunto”, completa.
O grupo do Pnaic orientado por Patricia acabou tornando-se uma referência entre os demais professores, pois os que não estavam inseridos na formação buscavam se inteirar do trabalho que vinha sendo desenvolvido pelas colegas. “Acabamos virando multiplicadoras; nossos colegas nos procuram para saber como proceder em determinadas situações. Estamos aproveitando as reuniões pedagógicas, para que algumas professoras que participaram da formação possam fazer a condução da reunião e compartilhar aquilo que foi aprendido.”
Os frutos desse trabalho já começam a ser colhidos, como relata Patricia: “Já conseguimos observar uma melhora grandiosa dos alunos.” Mas o processo não tem beneficiado somente os aprendizes. Ao refletir sobre a caminhada com o Pnaic, Patricia enfatiza o surgimento de um novo olhar sobre a atividade pedagógica: “Nós redescobrimos a Matemática e agora ela está sendo passada de outra maneira.”