Novas configurações de leitura

 

No último sábado, 27, acompanhamos o penúltimo encontro do curso Leituras em Conexão. Desta vez, fomos na Escola Municipal Nossa Senhora do Amparo, na regional Noroeste. O curso para formação de articuladores de leitura, voltado para professores da rede pública e bibliotecários, ocorre concomitantemente em oito escolas públicas de Belo Horizonte e na Secretaria Municipal de Educação (SMED) da capital mineira, contemplando as nove regionais da capital. O professor da Faculdade de Educação da UFMG Roberto Cezar Silva deu continuidade às discussões sobre experiência literária iniciadas no último encontro, em setembro, nas regionais.

 

Roberto começou a aula resgatando o que foi discutido em setembro. “Chegamos à conclusão de que ensinar literatura é ensinar a leitura literária, e não apenas a ler o livro”, lembrou. O professor chamou atenção para como os alunos hoje têm uma mente mais “difusa”, “multifacetada”, e que as gerações passadas têm uma mente mais “esquematizada numa linearidade”.

 

Diante de outros tipos de literatura e de outros produtos culturais, o capital cultural de uma pessoa também não depende mais de ler livros. Roberto e os cursistas citaram vários meios de cultura, como filmes, música, jogos, repertório que também torna uma pessoa culta na atualidade. Foi levantado então como questão a ser pensada como tornar a biblioteca um espaço atraente, diante da oferta atual diversa.

 

Ensinar a saber ler 

 

Para um dos cursistas, é necessário saber “dosar” a interação com o papel e o digital. Ele explicou que com sua filha permite que ela interaja com o digital, mas que também tem momentos de leitura de livros com ela, pois não quer causar uma dependência do digital.

 

Roberto explicou em seguida que as mudanças atuais trazem novas maneiras de ler, novas relações com a escrita e novas técnicas intelectuais. Em seguida, o grupo discutiu a diferença de confiabilidade em relação aos conteúdos compartilhados na internet ou em dispositivos digitais e materiais como a enciclopédia Barsa. Roberto considerou que é importante discutir “fake news” e que é fundamental preparar os alunos para saberem ler o que encontram nos meios digitais. Os cursistas concordaram, apontando que hoje as informações chegam às pessoas e elas não as procuram.

 

Multimodalidade e intermídia

 

A segunda parte do encontro foi voltada a retomar os conceitos de multimodalidade e intermídia, apresentados na última aula, para aprofundá-los. O conceito de multimodalidade utlizado foi o do professor Brian Street elaborado para o Glossário do Ceale. Também foi apresentado o conceito de textos visuais, na definição da professora Célia Abicalil também para o Glossário do Ceale.

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Roberto ponderou que é necessário entender as escolhas dos alunos, mas que o professor precisa contribuir para que o aluno tenha uma recepção mais consciente e crítica do que lê. O professor também atentou para o problema da expressão “texto não-verbal”, que valoriza otexto apenas se for composto de palavras. Roberto apontou que existem textos sonoros, textos visuais, e muitos outros, pois também comunicam.

 

Em seguida, o grupo discutiu e analisou poemas visuais e seu uso em sala de aula. Para finalizar, discutiu as diferenças entre obras multimodais e intermídia.

 

O projeto

 

O Leituras em Conexão: Formação de articuladores de leitura das Escolas Municipais de Belo Horizonte é um projeto da Secretaria Municipal de Educação (SMED) de Belo Horizonte desenvolvido em parceria com o Ceale.

 

A proposta surgiu a partir da percepção da necessidade de um melhor preparo dos professores para trabalharem com os livros disponíveis nas bibliotecas das escolas da rede pública. Com isso, a intenção é apoiar políticas públicas de incentivo à leitura, levando ao conhecimento dos educadores os projetos na literatura que estão em vigor e tudo o que o governo oferece em termos de material de apoio para o ensino literário, como as bibliotecas e acervos de livros.

 

O curso pretende abordar o planejamento de ações para incentivar a leitura nas bibliotecas escolares, o melhor aproveitamento dos acervos literários, além de oficinas de leitura, abordando fundamentação teórica e a prática também. Ao final do curso, os projetos desenvolvidos serão expostos em local público e compartilhados em redes.

 

Sugestão de livro no encontro

 

De carona com nitro, de Luís Dill (Editora Artes e Ofícios)