"O desenho é a sofisticação do pensamento"
Mesa-redonda sobre livros ilustrados ocorreu na quinta-feira à tarde no XI Jogo do Livro
Acontece • Sexta-feira, 20 de Novembro de 2015, 16:40:00
O pesquisador e ilustrador Istvansch, de forma muito extrovertida, conduziu sua fala por meio de exemplos e narrativas presentes em suas produções. Com o questionamento sobre “como a imagem produz o humor?”, o artista definiu que ele pode ser construído a partir dos mínimos detalhes de distração. Analisando exemplos de obras infantis bem ilustradas, buscou apresentar um pouco sobre como funciona a ferramenta de texto+imagem, criando assim diálogos com os saberes do leitor. Ao vestir um chapéu fantasia de um rosto feminino e atuar como a personagem, Istvansch mudou seu questionamento: “Como a arte pode ser construída?” E os exemplos não paravam de surgir. Em um livro com uma página totalmente em branco, o pesquisador narrava a cena: “vocês estão vendo um urso polar branco desenhando em uma folha branca seu filhinho branco que está desenhando na neve branca, e ainda veem o iceberg no fundo?” E então a conclusão: “o humor é construído a partir do não desenhar. Também é importante saber que, às vezes, a imagem pode representar mais ao não representar nada!”
Desconstruindo paradigmas. Foi assim que a professora da UFRJ e ilustradora Graça Lima deu início a sua participação no Jogo. Apontando críticas à ideia de trabalhar livros ilustrados através da semiótica e sobre as pessoas acharem que o escritor, quando vai escrever um livro, pensa na criança e não em si próprio, a artista fez importantes ponderações sobre estar mais preparado para lidar com livros ilustrados. “Temos que pensar nas origens daquilo que a gente faz”, explica a Graça Lima, ao citar o termo picture book (livro de imagem, em tradução literal), que não representaria nossa realidade. Graça propõe que o termo mais correto seria “Livro Ilustrado”. Após algumas análises de termos e posturas, Graça Lima buscou reforçar a importância do contato da criança com a imagem no seu dia a dia. “Quando a gente aprende, a gente começa visualmente, portanto, com o lado direito do cérebro. Quando crescemos e aprendemos a linguagem, usamos o lado esquerdo”, explicou. E é por isso que os livros infantis devem ser trabalhados em cores, com desenhos que acompanhem a trajetória de leitura, com ludicidade e narrativas suaves. Quase ao fim de sua participação, a ilustradora apresentou novas avaliações sobre as obras atuais: “a maioria das crianças brasileiras não se veem nos livros. Nós não somos rosa!’’. A professora ainda questionou a plateia sobre quantos dos presentes desenhavam quando eram pequenos, e quantos ainda desenham: o número caiu bruscamente. “O desenho é a sofisticação do pensamento, todos sabem e deveriam desenhar”, finalizou.
A professora da FaE e membro da comissão organizadora do evento Celia Abicalil Belmiro fez uma breve participação, apresentando e questionando sobre a interpicturalidade. Usando o exemplo da obra “O gato e o escuro”, de Mia Couto, e duas versões feitas por ilustradores diferentes, Célia reforça que “as variações denunciam não só suas formações, mas também as vivências diferentes”. Enquanto em um dos livros Marilda Castanha representa medo, tensão, cores escuras e até um certo pessimismo, a canadense Danuta Wojciechowska ilustra a mesma obra de modo mais leve, simples, com cores claras e muita luminosidade.