Partindo do diagnóstico e das diferenças


     

Letra A • Quinta-feira, 13 de Agosto de 2015, 16:06:00

Por Eliza Dinah

“O maior desafio é conseguir alfabetizar todo mundo sem ficar ninguém para trás. Porque a gente já ouve falar e vivencia a questão da heterogeneidade há muitos anos.” Para Daianna Medeiros, coordenadora local do Pnaic em Armação dos Búzios (RJ), o estímulo à autonomia contribuiu para despertar nos professores a atenção aos diferentes níveis de aprendizagem. “Isso porque não é uma proposta do Pacto trazer atividades já prontas. A ideia é provocar reflexões que levem o professor a construir as atividades e a desenvolver sua aula (seja por uma sequência ou um projeto didático) para atender as especificidades de sua turma.” Daianna observa, ainda, que a heterogeneidade é característica de todas as escolas e regiões. “O desafio de lutar com isso é de todo mundo, independente se a escola é localizada numa região mais central (com uma clientela um pouco mais elitizada) ou se é localizada na periferia.”

Outra importante estratégia para o planejamento das atividades do Pnaic esteve em diagnosticar como o aluno tem chegado ao Ensino Fundamental. Para isso, foi necessário lançar o olhar para um momento anterior: “O que o aluno que acabou de ser inserido no 1º ano do Ensino Fundamental já deveria ter aprendido? O que foi trabalhado com ele na Educação Infantil? De que forma foi realizado esse trabalho?” Esses questionamentos foram levantados pela supervisora Heloisa Borges, que sugere que o professor busque essas informações através de uma referência curricular da escola de Educação Infantil em que o aluno esteve e também por meio de uma avaliação diagnóstica. A formadora Rosemeire Reis reforça que essa atividade é essencial para se conhecer o sujeito para o qual se vai ensinar. “Essa avaliação não é um levantamento de número; não é um levantamento para nomear grupos, mas para saber o que será preciso fazer para que o sujeito alcance, por exemplo, o nível alfabético”, explica a formadora, ao falar especificamente sobre o papel dessa prática no ensino da língua.

“Insistimos muito na valorização dos conhecimentos prévios”, ressalta a coordenadora Daniela Campos sobre o trabalho na UFT. Ela destaca os casos de estudantes e professores inseridos em comunidades indígenas e quilombolas, muito comuns no Tocantins. “Não havia a clareza de que, em qualquer circunstância, os professores precisam verificar quais conhecimentos matemáticos os alunos já têm, o que inclui os conhecimentos relativos a suas comunidades.” Um exemplo, vivenciado junto ao povo indígena Krahô, esteve relacionado ao modo de contagem. Segundo a coordenadora, enquanto o modelo convencional ensina a contagem decimal, nessas aldeias, como entre outros povos indígenas, a contagem é feita em sistema de base três. “E os quilombolas nos deram uma aula sobre medida de praça. Porque o caderno 6 traz vários tipos de medidas que vão além das convencionais, e acabamos por verificar que existem tantas outras típicas dessas culturas”, conta Daniela.

 


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