Políticas públicas de leitura literária em discussão

Quarto encontro do Leituras em Conexão gerou debate intenso na Escola Municipal Professora Eleonora Pieruccetti


     

Acontece • Sábado, 12 de Maio de 2018, 15:18:00

 

Hoje ocorreu o quarto encontro do projeto “Leituras em Conexão”, parceria entre a Secretaria Municipal de Educação (SMED) de Belo Horizonte e o Ceale. O projeto consiste em dez encontros, um por mês, com nove turmas de professores da rede municipal da capital mineira – uma turma por regional da cidade. O objetivo é formar articuladores de leituras nas escolas. Acompanhamos neste sábado o encontro da turma da regional Nordeste, que se reúne na Escola Municipal Professora Eleonora Pieruccetti.

O professor da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG Carlos Augusto Novais – que substituiu o formador que começou com a turma, André Magri de Melo –, um dos formadores do curso, começou o dia lendo poemas, prática habitual do início de cada encontro. Escolheu três poemas de Paulo Leminski (ouça aqui). A seguir, começou a apresentação sobre o assunto central do dia, as políticas públicas de leitura literária, focando no Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), do MEC, e nos acervos literários do Kit Escolar, da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).

Vários desafios

Partindo da informação de que o PNBE foi “descontinuado” pelo MEC – o governo está desde 2014 sem comprar livros de literatura –, a discussão começou a encaminhar para as dificuldades em estabelecer diálogo entre a universidade, políticas públicas e as escolas. O professor Carlos defendeu que os “dois saberes”, o da universidade e o da escola, “têm que conversar”, e que as políticas públicas partem desses desafios de diálogo, mas não há garantia de que os atendem. Uma das professoras cursistas ressaltou também que dentro das próprias escolas é difícil fazer articulações, já que há professores que não se envolvem.

Logo após, o professor Carlos fez uma exposição sobre os elementos necessários para garantir a democratização da leitura, que são: garantir acesso efetivo, espaços literários e mediadores qualificados. No entanto, o formador advertiu para os obstáculos para isso, sendo o primeiro de ordem estrutural e econômica. Carlos também atentou para a importância de entender a política pública como um “modelo de sociedade”, já que ela revela a proposta de Estado, por meio de seus governos, por trás de seus gestos. Ele exemplificou comparando o PNBE com a nova proposta do governo, o PNLD literário.

A partir disso, foram levantadas ressalvas pelo formador e pelos professores cursistas sobre a efetividade das políticas públicas, o que levou a turma a discutir que também é necessário se atentar para o universo do aluno, ampliando dessa forma o olhar sobre literatura – assunto que foi discutido no terceiro encontro –, pois os professores também precisam atender aos interesses dos alunos. O professor Carlos citou a música como exemplo do que é muito forte na realidade dos alunos.

Em seguida, foi discutida a distribuição de livros pela SMED/BH através do Kit Escolar para os alunos, que começou em 2003. Houve uma discussão intensa sobre o aproveitamento dos livros e dos outros materiais distribuídos, com professoras e professores exemplificando que muitos livros são jogados fora ou vendidos. Para alguns professores, deveria receber o kit apenas o aluno que precisa, para outros professores deve haver distribuição para todos.

Para encerrar o primeiro período do encontro, o professor Carlos falou sobre os desafios das políticas e dos programas. Entre eles estão a falta de conhecimento sobre os programas, a pouca articulação entre o MEC e as redes municipais de ensino, criar estímulos aos profissionais que atuam em bibliotecas, integrar a biblioteca e o corpo docente e a formação de mediadores de leitura.

Críticas ao "PNLD Literário"

Após o lanche, o professor Carlos discutiu os problemas da proposta do “PNLD literário 2018”, que substituirá o PNBE. Na visão dos formadores do curso Leituras em Conexão, a atual política de distribuição de livros literários do MEC causará uma “didatização” da literatura.

O professor leu uma nota de repúdio ao PNLD literário, assinada por vários professores e grupos da FaE/UFMG que argumenta que “o acesso das crianças brasileiras ao livro, na escola, deve contribuir para ampliar suas experiências éticas, estéticas e políticas como determinam as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Entretanto, o referido Edital, além de estabelecer conteúdos, cerceia a forma e as práticas de leitura, pois especifica temas por faixa etária, determina tamanhos e formatos dos livros e inclui manuais didáticos de uso das obras na escola.”

Confira o edital do PNLD literário 2018 aqui.

Confira a nota de repúdio aqui.

Após a discussão sobre o programa do governo, foram discutidos os elementos propostos pelo curso para os professores cursistas seguirem como modelo, para formalizarem suas ações e projetos desenvolvidos em suas escolas. O objetivo do Leituras em Conexão é, além de propor programas, se necessário, principalmente consolidar os já existentes nas escolas de Belo Horizonte.

 

O projeto

A proposta do Leituras em Conexão: Formação de articuladores de leitura das Escolas Municipais de Belo Horizonte surgiu a partir da percepção da necessidade de um melhor preparo dos professores para trabalharem com os livros disponíveis nas bibliotecas das escolas da rede pública. Com isso, a intenção é apoiar políticas públicas de incentivo à leitura, levando ao conhecimento dos educadores os projetos na literatura que estão em vigor e tudo o que o governo oferece em termos de material de apoio para o ensino literário, como as bibliotecas e acervos de livros.

O curso pretende abordar o planejamento de ações para incentivar a leitura nas bibliotecas escolares, o melhor aproveitamento dos acervos literários, além de oficinas de leitura, abordando fundamentação teórica e a prática também. Ao final do curso, os projetos desenvolvidos serão expostos em local público e compartilhados em redes.

 

Jogo Rápido

Algumas das trocas realizadas entre os professores no encontro. 

 

Uma frase:

“Literatura não trabalha com conceito, trabalha com expressividade” (dita pelo professor Carlos)

 

Uma proposta de atividade:

Álbum de figurinhas (as figurinhas são os livros já lidos)

 

Uma canção:

A flor e o espinho – Nelson Cavaquinho

 

Leia mais

Primeiro encontro do Leituras em Conexão

Terceiro encontro do Leituras em Conexão