Retrospectiva: Construtivismo não é método


     

Letra A • Segunda-feira, 11 de Maio de 2015, 17:17:00

No Brasil, na década de 1980, as investigações de Emília Ferreiro e colaboradores foram amplamente difundidas. Nesse período, a Universidade diminuiu significativamente o número de trabalhos dedicados às questões metodológicas. Segundo dados da pesquisa permanente "Alfabetização no Brasil: o estado do conhecimento", organizada pelo Ceale, em meados da década de 1980, a abordagem do tema "método" teve um declínio acentuado no conjunto das pesquisas acadêmicas e científicas sobre alfabetização. Francisca Maciel, que atualmente coordena a pesquisa, diz que investigações sobre as metodologias fechadas foram substituídas por estudos voltados para "propostas didáticas" que melhor atendiam às demandas criadas pelo novo paradigma trazido pelo Construtivismo.

A teoria do Construtivismo pode ser considerada revolucionária, por explicar as concepções e hipóteses construídas pelo aluno para se apropriar da língua escrita. Segundo a pesquisadora do Ceale e professora da FaE/UFMG, Isabel Frade, embora a teoria construtivista não tenha proposto uma didática de alfabetização, a partir da década de 1980, muitos professores passaram a só considerar os alunos partindo do referencial da Psicologia, acabando por distorcer a teoria em método. Para Isabel Frade, "uma certa apropriação equivocada do Construtivismo gerou um relativismo metodológico, em que cada professor só iria fazer o que fosse propício para uma sala de aula, para um aluno, como se não pudesse haver princípios gerais de trabalho com a língua escrita". A professora ressalta que as contribuições do Construtivismo são inegáveis e que, hoje, não se pode pensar em metodologias de alfabetização sem considerar a criança que aprende e modo como ela aprende. Mas afirma que não basta diagnosticar uma fase sem criar uma estratégia para que a criança progrida. "Esse é o problema do professor, é o problema da pedagogia", define.

A professora Maria Emília Lins, da Universidade Federal de Pernambuco, também considera que a apropriação distorcida do Construtivismo colocou o professor como um simples observador, que não deveria traçar estratégias de intervenção para proporcionar o aprendizado a seus alunos. "O ambiente alfabetizador, que era muito defendido, não é suficiente". Maria Emília Lins diz que também não defende o uso de métodos tradicionais de forma isolada, porque acredita que esse tipo de didática limita o trabalho do professor com relação aos diferentes gêneros textuais e a compreensão dos alunos de que os textos se inserem nas práticas e ambientes culturais nos quais eles circulam. A pesquisadora afirma que é imprescindível que o trabalho do professor seja conduzido por princípios e objetivos. "O educador precisa ter clareza dos caminhos que vai seguir e saber adequar o que vai ser ensinado a quem vai ensinar e para quê", explica. A pesquisadora Telma Weisz concorda que é um engano dizer que o Construtivismo propõe deixar os alunos aprenderem sozinhos. Para ela, "o oposto do método fechado não é o nada, o abandono. O oposto é uma metodologia de ensino na qual o professor conhece o sujeito a quem ensina e o objeto que ele está ensinando: a língua e a linguagem escrita".

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