Seminário "Percursos Formativos em Alfabetização" traz importantes reflexões sobre o tema e a prática docente

Iniciativa foi uma parceria do Ceale com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro


     

Geral • Quarta-feira, 20 de Julho de 2022, 11:32:00

O seminário “Percursos formativos em Alfabetização” teve início no último dia 18, segunda-feira, no auditório Neidson Rodrigues da Faculdade de Educação da UFMG. A iniciativa é uma parceria do  Ceale com a Secretaria Municipal de Educação (SME) do Rio de Janeiro. Ela faz parte do projeto Rio Alfabetiza+ em Rede – Professor(a) Alfabetizador(a), que selecionou 11 professores regentes e 11 coordenadores pedagógicos com destaque em seus resultados gerais para participarem da formação, além dos diretores e coordenadores pedagógicos das Unidades Escolares. O seminário marca a volta de eventos presenciais do Ceale depois de dois anos de trabalhos remotos por conta da pandemia.

Na mesa de abertura estavam presentes o diretor e a vice-diretora do Ceale, Gilcinei Carvalho e Daniela Montuani, a diretora da FaE/UFMG, Andrea Moreno, e a Gerente de Alfabetização e Anos iniciais da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Samanta Alves. Os professores deram as boas vindas aos docentes e falaram da importância desse tipo de parceria entre as redes. Samanta Alves apresentou o programa “Rio Aprende Mais”, que engloba os projetos “Rio Alfabetiza” (e dentro dele o Rio Alfabetiza+ em Rede – Professor(a) Alfabetizador(a))  e  “Reforço Rio”, que visam minimizar as desigualdades e defasagens educacionais potencializadas pela situação pandêmica.. 

A primeira palestra foi ministrada pelo professor Gilcinei, em que ele apresentou algumas concepções sobre alfabetização, leitura e escrita, apresentando, por exemplo, como o uso do código linguístico extrapola o aprendizado em sala de aula e está sempre em movimento e que, para um ensino efetivo, é importante acompanhar todas essas nuances. O professor ressaltou que mais importante do que pedir que o aluno “leia ou escreva”, é “construir um caminho  de ensino que favoreça principalmente a construção e a negociação de sentido”, para que o aluno, além de ter domínio da língua, saiba fazer uso de suas potencialidades.

 

 

Em seguida, tivemos a apresentação da professora Valéria Resende sobre o Grupo de Pesquisa em Alfabetização (GPA) e o programa de escrita inventada. Valéria falou sobre a origem do grupo e os conceitos que norteiam as pesquisas, apresentando um pouco da prática das investigações e os resultados obtidos. Os conceitos discutidos e outras práticas de mediação na escrita inventada podem ser encontrados no livro publicado pelo grupo este ano: Grupo de pesquisa em alfabetização e o programa de escrita inventada.

Abrindo as palestras do turno da tarde, a professora Isabel Frade falou sobre a produção de textos na alfabetização, abordando questões relativas às práticas de linguagem relacionadas à interação e à autoria do texto escrito, oral e multissemiótico. A palestra focou nos seguintes tópicos: definições sobre textos e produção de textos, crianças como protagonistas e autoras de seus textos, pressupostos para a compreensão e ensino da produção textual e desafios para as crianças no processo de escrita. Ao final, a professora mostrou situações de produção e de escrita de textos, pontuando possíveis intervenções do professor.

A última palestra do dia foi ministrada pela professora e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Cultura Escrita Digital - Nepced, Mônica Araújo, que abordou aspectos conceituais e práticas sobre leitura e escrita digital. Primeiramente, a professora apresentou as ações de extensão realizadas pelo Nepced, como o  Simpósio Nacional sobre Cultura Escrita Digital  (Sinced), o Colóquio com Nepced e o Nepced na Escola. Depois, foram discutidas questões relativas à cultura escrita digital que, segundo Mônica, “refere-se a diferentes práticas, sentidos, objetos, conhecimentos, materialidades, comportamentos, hábitos, sociabilidades, valores e linguagens mobilizadas e produzidas nas práticas de leitura e escrita que ocorrem em dispositivos digitais e na internet”.
 
A professora ainda falou sobre literatura digitalizada e digital, fornecendo diversos exemplos. Ao final, apresentou dois projetos do Núcleo: o livro “Tecnologias digitais na alfabetização: o trabalho com jogos e atividades digitais para aquisição do sistema alfabético e ortográfico da escrita”, já disponível no site, e o e-book “Termos e Ações Didáticas Sobre Cultura Escrita Digital - Nepced na Escola”, que será lançado em setembro deste ano durante o VII Colóquio com Nepced.
 
 
 

Na terça-feira (19), as professoras Daniela Montuani (CEALE/FaE/UFMG) e Maria José Francisco (CEALE/FaE/UFMG) deram início ao segundo dia de seminário apresentando o LAL- UFMG - Laboratório de Alfabetização e Letramento. As professoras falaram sobre a origem do laboratório e apresentaram alguns jogos produzidos, como o “Trinca Mágica”. Ao final, a plateia participou de uma dinâmica em que,utilizando a plataforma “Jamboard”, brincaram com os “Versos Rimados”, criando pequenas rimas com o aplicativo, que foram projetadas na hora.

No turno da tarde, Wellington Dias, artista visual formado pela Escola de Belas Artes (EBA) e aluno de mestrado da FaE, apresentou o Jardim Mandala aos professores e coordenadores. O espaço idealizado pelo mestrando conta com mais de 130 espécies de plantas medicinais e aromáticas, e é aberto ao público.

 

 
Após a visita, a professora Francisca Maciel (CEALE/FaE/UFMG) ministrou uma palestra sobre a formação de alfabetizadoras nas pesquisas brasileiras, discorrendo sobre o impacto de três programas nacionais na aprendizagem dos alunos, sendo estes o Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (PROFA) 2001, o Pró-Letramento e o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). Segundo ela, “dentro da formação dos professores, nós precisamos pensar nos princípios do diálogo, do conhecimento, da metodologia e da pesquisa”. Ao final da apresentação, a fala foi aberta aos professores regentes e coordenadores pedagógicos, que contribuíram com relatos e perguntas à Francisca.
 
 
A palestra de encerramento contou com a professora titular emérita da FaE e uma das fundadoras do Ceale, Magda Soares, que participou remotamente, com projeção em tela no auditório. Magda apresentou o ALFALETRAR, projeto de desenvolvimento profissional de professores no município de Lagoa Santa (Minas Gerais). O projeto visa realizar uma formação de rede em alfabetização e letramento, partindo dos princípios da continuidade, integração, sistematização e acompanhamento.
 
Magda explica que foi criado um Núcleo de Alfabetização e Letramento na Secretaria Municipal de Educação, constituído por uma representante de cada escola do município, com o intuito de atingir toda a rede. “É como se eu tivesse realizado um sonho que mantive durante muito tempo. Tentei realizar, felizmente está realizado e é contínuo, porque não tem interrupção para esse projeto. Ele não parou durante a pandemia, ele continuou e vai continuar”, declarou a professora. 
 
 

 

Reflexões: os desafios para a alfabetização e a formação docente

Entrevistamos algumas das docentes presentes, primeiramente, sobre os maiores desafios atuais da alfabetização. Leia as respostas das entrevistadas.

Samanta dos Santos Alves, representante da Gerência de Alfabetização dos Anos Iniciais (GAI) na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME-RJ) -  “ Eu creio que um dos maiores desafios que a gente vem tendo na secretaria e que a gente vem tratando com maior cuidado, está relacionado à formação dos professores. A gente entende que é através do fortalecimento dessa formação continuada em serviço, que é algo que não é a curto prazo, demanda um tempo, demanda atenção, que a gente consiga maior efetividade no processo. Então, eu vejo que é a formação continuada dos professores”.

Queiti Cristina Pereira da Silva, assistente da GAI na SME- RJ: "Atualmente o Rio de Janeiro enfrenta problemas da ordem da violência, e isso influencia muito as nossas escolas. Como foi dito aqui, boa parte das nossas escolas estão em territórios conflagrados pela violência e isso é um desafio que a Secretaria tem enfrentado através de projetos, programas e ações pensando em minimizar essa defasagem de aprendizagem que acontece quando esses estudantes precisam ficar sem aula, então vários esforços são feitos nesse sentido, através do Rio Educa na TV, que são aulas gravadas pelos nossos professores da rede, pelo material Rio Educa, que é o material que é oferecido e preparado também pela Secretaria para os estudantes dessa faixa etária. 

Fabiana Vieira de Assis dos Santos, diretora adjunta: “Na atualidade, o maior desafio é realmente alfabetizar os nossos alunos diante de um período pandêmico que a gente teve, né? E nossos alunos, alguns tendo acesso [às aulas online], outros não, então, não teve uma homogeneidade na questão do ensino para uns e para outros”. 

Sônia Folena, gerente de Ensino Fundamental na Escola de Formação Paulo Freire: “Nossa, são tantos [desafios], né? São muitos. Eu acho que a questão do tempo e do espaço que a gente vive hoje, nesse período de retorno após um afastamento tão significativo da escola e das interações que a escola oferece. Retomar esse recurso, retomar esse trabalho, eu acho que é um dos grandes desafios que a gente tem, no sentido de buscar recomposição de aprendizagem para as crianças, né? E sempre buscar ações de alfabetização com sentido, com significado. Que a criança tenha oportunidade de experimentar, aprender a ler e escrever, se sentir parte desse processo”.

As professoras também deram sua opinião sobre a importância do Seminário como parte da formação na docência:

Queiti: “Eu sou uma apaixonada por esse processo de estudar, de estar em movimento pensando o nosso fazer pedagógico, né? Eu entendo que ser professor é estar atento às pesquisas no campo acadêmico que vão pensar esse fazer. Pesquisas e formações que vão pensar com o professor e não sobre, e não para ele. Mas quando a gente pensa num movimento formativo em que a gente pensa com essas questões da alfabetização, eu acho que eles têm muita chance de serem exitosos e esse percurso foi pensado com os professores, a partir dos desejos enquanto gerência e necessidades que nós identificamos como momentos importantes para serem vivenciados aqui”. 

Fabiana: “A questão de atualidades mesmo, né? Caminhos e estratégias que podem ser buscados para ajudar a gente, ideias para que a gente possa estar colocando em prática no nosso cotidiano escolar e nas salas de aula juntamente com os professores, passar essas informações para os professores também que não puderam vir participar”. 

Sônia: “É sempre muito importante a gente ouvir e estar aberto para ouvir, para pensar e repensar a partir do que a gente está ouvindo, juntando com aquilo que a gente faz, né? É um processo de diálogo, de reflexão, de ação que só tem a enriquecer. Seja para a gente repensar as nossas práticas, perceber onde de repente a gente pode fazer diferente, seja para ratificar aquilo que a gente já faz e que tem dado bons frutos, então essa oportunidade é sempre muito importante para os professores”.