Som, imagem e palavra de mãos dadas

Integração entre diferentes linguagens marca a literatura contemporânea


     

Acontece • Quarta-feira, 13 de Novembro de 2013, 15:13:00

Na era da convergência de mídias e do bombardeio de imagens e informações, o livro infantil já não é o mesmo: a literatura tem abarcado diversas linguagens, em complexos sistemas de interação. Mas como definir um livro infantil em que a história é contada pelo texto e por ilustrações que reproduzem fotogramas de cinema? Ou uma obra literária em forma de produção radiofônica? Ou um livro-biombo?

“O termo livro ilustrado abarca um conjunto de tendências, mas não é suficiente para demonstrar todas elas. A produção brasileira de livros ilustrados é rica e variada e vem incluindo cada vez mais artistas na concepção da obra”, afirmou Célia Abicalil Belmiro, pesquisadora do Ceale. Célia Abicalil foi uma das palestrantes na mesa Literatura, artes plásticas, música... Sistemas semióticos em interação, durante o X Jogo do Livro Infantil e Juvenil.

Célia apresentou uma série de livros infantis contemporâneos que unem a linguagem literária e cinematográfica, apropriando-se de recursos como imagens de close, panorâmica, construção da narrativa em forma de quadros, aceleração do tempo narrativo, flashback e metáforas visuais. “Mídias que se interpenetram nos confrontam com sua novidade e deslocam paradigmas aos quais nos habituamos e que nos confortam”, afirma.

“Essa guerra faz mais barulho que as outras”

Roger Melo, ilustrador e escritor, deu seguimento a provocação. “A arte é cheia de objetos limítrofes que sempre questionam as definições.” Premiado por inúmeras obras infantis, Roger concorre atualmente ao prêmio "Hans Christian Andersen", considerado o Nobel de Literatura Infantil, e contou sua experiência na utilização de diversas linguagens em sua obra.

Uma delas é um livro que conta as peripécias de um menino iraquiano durante a Guerra do Iraque de 2003, que definia como a “guerra que fazia mais barulho que as outras”. Assistindo a um saque de agentes ao Museu de Bagdá, o menino encontra um tapete dobrado em três vezes, em que dentro há um livro. A obra acompanha a história, constituindo-se também em um pequeno tapete com um livro dentro – que é lido da forma oriental, aberto da esquerda para a direita. “O livro é um objeto que nos permite a viagem e nos faz dialogar e entender a cultura oriental pela experiência”.

Júlio de Paula, radialista e professor da Faculdade Casper Líbero (SP), definiu sua apresentação como “Rádio e literatura de mãos dadas e ouvidos abertos: em busca de uma radiofonia literária”. Ele apresentou diversas peças radiofônicas realizadas a partir de obras literárias e poesias populares.

De acordo com Júlio, a literatura para rádio é um campo pouco explorado no Brasil, onde prevaleceram apenas as novelas. Em países da Europa, há uma vasta produção textual para o rádio. “O universo lúdico da criança permanece vivo na escuta radiofônica. Escutar é interagir. Nesse sentido o mecanismo interativo da literatura se faz presente no rádio. Escutar é criar o seu próprio cenário, num espaço infinito de escuridão.”