Uma mesma língua, várias culturas
Programa promove o intercâmbio entre docentes e discentes e, assim, efetiva diálogos entre países do continente africano e o Brasil.
Institucional • Quarta-feira, 29 de Julho de 2015, 15:28:00
Por Manuela Peixoto
Cabo Verde é um arquipélago africano formado por dez ilhas, das quais nove são habitadas, e onde cada uma possui suas particularidades sonoras e suas manifestações artísticas. A mistura, a riqueza e a variedade dos sons e dos estilos musicais do país - entre eles o samba, o batuque e a mazurca, um estilo de dança tradicional nas ilhas - serviram de inspiração e foram os principais objetos de estudos do professor da UFMG, Marco Scarassatti, em sua estadia no país.
A visita de Marco a Cabo Verde faz parte do projeto “Ensinar qual Língua, Ler qual Literatura? Interculturalidade e relações étnico-raciais no Brasil e em Cabo Verde”, financiado pelo Programa Pró-Mobilidade Internacional CAPES/AULP. O Programa prevê a ida de bolsistas da UFMG, e também conta com uma professora da UEMG, para Cabo Verde e a vinda de bolsitas da Universidade de Cabo Verde (UNI-CV) para o Brasil e está dividido em cinco eixos de atuação. Marco, que é coordenador do eixo Arte e Diversidade, conta que, durante a sua estadia, buscou investigar e entender a constituição de um espaço a partir dos sons, sejam eles naturais, geológicos, culturais, ligados à fala ou à própria música. “O intuito foi inventariar os sons das ilhas na tentativa de constituir uma cartografia sonora de Cabo Verde, e que não tivesse propriamente um amparo visual, como são os mapas cartográficos, mas o que seria um mapa sonoro por ele mesmo”, explica Marco.
Coordenado pela pesquisadora do Ceale e professora da UFMG Aracy Alves Martins, o projeto tem em vista a diversidade sociocultural, aspectos relativos à identidade, relações étnico-raciais e diálogos interculturais - a partir da análise de obras literárias, manuais escolares e documentos oficiais relacionados a políticas linguísticas e culturais. Atualmente, Cabo Verde tem a língua Cabo-Verdiana (popularmente conhecida como Crioulo) como língua materna e o Português como idioma oficial. Os cinco eixos buscam trabalhar exatamente esta questão: contribuir para que a sociedade cabo-verdiana funcione em bilinguismo.
Também esteve em Cabo Verde o professor da UFMG Carlos Novais, subcoordenador do eixo Análise da Produção Literária para Crianças e Jovens. Em missão de estudos, o foco de Carlos foi estudar como o uso da literatura oral em cabo-verdiano poderia auxiliar na alfabetização do Português e do próprio Crioulo dentro da escola. Tentando ver como a literatura participava desse processo de bilinguismo, Carlos visitou uma escola do interior e uma da capital. “E o que eu vi em sala de aula é a presença muito forte de cantigas populares, de festas tradicionais, quadrinhos, trocadilhos e trava-línguas, tudo passado de geração em geração de maneira oral. E é com essa bagagem que as crianças trazem de casa que os professores compararam e fizeram análises contrastivas com o Português para ensinar e alfabetizar no Crioulo”, conta Carlos.
Além disso, também integram o projeto os eixos Análise de novos Manuais Escolares da Escola Básica, desenvolvido e coordenado pela professora Aracy Alves Martins; Tensões no Ensino de Línguas, coordenado pela professora Míria Gomes; e Estudos Étnicos e Raciais, coordenado pela professora da UEMG Vanda Praxedes.
Visitas cabo-verdianas
Durante o mês de maio, a Faculdade de Educação da UFMG recebeu a visita da professora Maria Amélia Rodrigues Carvalho Gomes, da UNI-CV. Maria Amélia, que é professora de Português, participou de aulas, seminários, simpósios, conferências e pesquisas sobre as realidades socioculturais no Brasil e Cabo Verde, sua imbricação com as desigualdades sociais e repercussões na educação. Ao final de sua estadia, a professora ainda fez uma visita ao Centro Pedagógico da UFMG (CP). O objetivo era poder tomá-lo como referência para um projeto a ser apresentado em sua universidade.
Ainda como parte do Programa, também esteve na UFMG a intercambista Maria Alice Gonçalves, estudante do 3º ano do curso de graduação de Gestão do Patrimônio Cultural, da UNI-CV. Maria esteve na FaE no segundo semestre de 2014 participou de mini-cursos, simpósios e atividades extra-curriculares, além de ter realizado disciplinas teóricas. Já de volta ao país de origem, Maria Alice conta que a vinda para o Brasil proporcionou uma experiência que para ela parecia impossível. “A minha ida a UFMG me fez crescer e ter confiança. Hoje me sinto muito mais preparada e trouxe muitas bagagens para concluir o meu curso. A Universidade tem uma base bem definida e oferece condições para que os estudantes possam atingir os objetivos traçados”, ressalta Maria.