Baixo desempenho e mobilidade no PROALFA
O Ceale Debate de setembro discutiu a alteração do desempenho dos alunos em avaliações
Acontece • Segunda-feira, 14 de Outubro de 2013, 16:52:00
No Ceale Debate de setembro, quem participou foi a psicóloga e doutora em educação Karina Fideles Filgueiras. Durante sua pesquisa de doutorado, Karina buscou entender os baixos resultados dos alunos para além dos aspectos quantitativos dos resultados das avaliações do PROALFA, observando a variação do desempenho dos alunos em diferentes anos da prova.
Num primeiro momento, Karina selecionou oito escolas da rede estadual de ensino em Belo Horizonte, para analisar os resultados de estudantes do 3º ano do ensino fundamental e identificar o número de alunos com baixo desempenho (BD). Em seguida, selecionou duas dessas escolas, ambas da Superintendência Regional de Ensino (SER) da Metropolitana. A partir daí, ela analisou a mobilidade dos alunos de baixo desempenho, ou seja, observou se no ano seguinte eles continuaram obtendo um resultado baixo, ou se passaram a ter desempenho intermediário ou recomendável.
Karina identificou que muitas vezes são utilizadas estratégias para evitar que os alunos BD façam a prova do PROALFA. Orientar os alunos a faltar a aula no dia da prova ou retirá-los de sala no momento do teste são táticas comumente utilizadas. Mas Karina não se posiciona contra esses métodos: “Não dá para criticarmos. As estratégias demonstram uma tentativa de cumprir uma regra. A escola tem que ter um bom desempenho, porque senão não recebem computadores, por exemplo. Tem uma série de questões atreladas”, ela afirma.
Em outro estudo, a psicóloga observou o resultado de escolas com mais de cinqüenta alunos participantes do PROALFA entre 2008 e 2010. Foi observada a porcentagem de escolas que têm mais de 50% de alunos BD. Na regional A, por exemplo, das 34 escolas, 8% (ou 3 escolas) têm mais de 50% de alunos BD. Foi analisada também a quantidade de escolas com menos de 5% de alunos BD, que no caso da região A, foi de 26,47%. Em todas as regionais observadas, o número de escolas com mais de 50% BDs era menor que o número de escolas com menos de 5% BDs.
Durante o debate, um dos principais pontos questionados foi a validade dos métodos de avaliação dos alunos. Para uma professora da rede municipal e particular que estava na plateia, os testes utilizam critérios pedagógicos, mas não levam em conta as dificuldades dos alunos. Além disso, ela apontou que as provas não valorizam o desenvolvimento e o sucesso de uma criança no decorrer do ano letivo e desvalorizam o trabalho do professor. Outro problema seria a falta de apoio especializado para os alunos com dificuldades de aprendizado.
Também foram levantadas questões como “O que quer dizer quando falamos que um aluno não aprende? Não aprende o quê? O que eu quero?”. Segundo uma das professoras da plateia, “os discursos pedagógicos são muito bonitos, mas na hora de avaliar, o governo volta aos métodos tradicionais”. Karina defende que avaliações são necessárias para balizar e estabelecer objetivos para o aluno até o fim do ano. Mas ressalta que, da forma como estão sendo feitas, as avaliações de desempenho ainda apresentam muitos problemas.