O que agita o corpo na escola?
Ceale Debate de junho discutiu motivos e formas de lidar com a agitação das crianças
Acontece • Terça-feira, 02 de Julho de 2013, 14:41:00
O Ceale Debate do mês de junho teve a participação da psicanalista Ana Lydia Bezerra Santiago, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão social da Faculdade de Educação da UFMG. Ana Lydia quetionou: “O que agita o corpo na escola?”. A partir desse tema, foram apresentados diversos pontos relacionados com a maneira como as crianças manifestam conflitos e problemas pessoais através do corpo.
A escola é o primeiro ambiente de socialização que as crianças frequentam fora do círculo familiar. A forma como uma criança fala, se veste e se comporta só se destaca quando ela chega à escola. Lá, ela precisa competir por espaço e vivenciar novas tensões sociais. É nesse contexto que o corpo agitado expressa algo que não vai bem, manifesta-se de forma bruta. A escola precisa interpretar o que isso significa.
Para Ana Lydia, há quatro respostas para a pergunta “O que agita o corpo na escola?”: a escola, a família, a sexualidade e a angústia. Muitas vezes, os professores atribuem o comportamento agitado da criança à família, já que os alunos voltam muito mais inquietos depois do fim de semana. Mas de acordo com a psicanalista, muitas vezes a causa da agitação é a própria escola, já que é ali que a criança precisa disputar por espaço e atenção, uma vez que em casa o seu lugar já está garantido. Além disso, há a tensão no contato com as outras crianças.
Os sintomas que se manifestam na escola precisam ser interpretados, e é preciso saber onde e como tratá-los. É necessário compreender o que o sintoma representa com a ajuda de um psicanalista, sem tirar conclusões imediatas. Interpretar um corpo agitado, para Ana, é a tarefa mais complexa da escola, já que depende intrinsecamente da formação do educador, que muda de acordo com a época. Atualmente, por exemplo, crianças agitadas são frequentemente diagnosticadas como portadoras de transtorno de déficit de atenção.
Para ilustrar essas agitações, Ana Lydia apresentou alguns casos, como o de Luciana*. Com cinco anos, ela é uma garota muito inteligente, mas extremamente agitada. Ela é ansiosa, brava, tem dificuldades para dormir e tem muitas “fantasias”. Essas fantasias são preocupações da garota. Quando está comendo, por exemplo, e coloca a colher em cima da mesa, ela logo acha que a colher está suja e que vai pegar doenças se colocá-la na boca. Ana Lydia relata que conversar com Luciana sobre o assunto possibilitou que a menina dormisse mais facilmente. Por meio desse e de outros exemplos, Ana Lydia mostrou como o que agita o corpo na escola deve ser analisado caso a caso.
O Ceale Debate é um evento mensal que envolve pesquisadores e professores em discussões temáticas sobre o ensino e o aprendizado da leitura e da escrita. As palestras acontecem na Faculdade de Educação da UFMG e a entrada é gratuita, mediante inscrição pelo e-mail cealedebate2013@gmail.com.
* Nome fictício