Biblioteca para os pequenos

Ceale Debate discutiu experiências mexicanas na organização de bibliotecas para a primeira infância


     

Acontece • Terça-feira, 20 de Maio de 2014, 17:02:00

As crianças chegam e ficam livres para transitar por entre os vários universos da literatura: elas vão de estante a estante em busca de algo que as agrade. Livros escolhidos. Entram então em cena os mediadores de leitura, fundamentais para o êxito das duas experiências mexicanas de bibliotecas universitárias relatadas no Ceale Debate de quarta-feira, dia 7. Os projetos relatados por Edith Corona (Benemérita Universidade Autônoma de Puebla) e Beatriz Soto (Universidade Autônoma de Querétaro), deram ricas contribuições para se pensar a organização de bibliotecas para a primeira infância, faixa etária que vai de zero a seis anos.

A experiência em Puebla traz a importância de se deixar as crianças à vontade nos espaços de leitura, numa posição agradável, auxiliadas pelos mediadores e muitas vezes acompanhadas pela presença importante e aconchegante da família. “Temos que criar um ambiente leve, para que tanto as crianças, em seus contatos iniciais com a leitura, quanto os pais, após um dia de trabalho, se entretenham”, explica Edith. Segundo ela, os próprios pais são convidados a se tornarem narradores quando os mediadores não estiverem presentes. “Eles se surpreendem ao verem os filhos quietinhos ouvindo as histórias que os mediadores contam, e passam a copiá-los. Todos são capazes de mediar, inclusive o pai, que percebe que fazer isso não é papel somente materno”, conta.

Várias sessões semanais são realizadas pelo projeto, que recebe turmas das escolas locais, fazem encontros com leitura em voz alta (narradas pelos mediadores), usando livros clássicos ou mesmo em outras línguas. A equipe também leva as sessões a bairros mais pobres ou mesmo a hospitais para levar a experiência a crianças doentes, estendendo a ação para fora da Universidade. Nesses encontros, destaca-se o interesse das crianças pelas “histórias de susto”: “Apagamos as luzes, elas encontram a melhor posição e ficam bem empolgadas com as narrações”, conta Edith, reiterando a força do lúdico no aprendizado das crianças. Os livros são organizados por autor e por tema, e se encontram sempre à vista e ao alcance das crianças. As formas de leitura variam, entre individuais e coletivas, de apenas imagens à utilização de texto.

“O objetivo é oferecer o acesso à biblioteca também fora das escolas”, ressaltou Beatriz Soto ao responder a uma das questões durante o debate. A convidada expôs o alcance do projeto que participa, que beneficia comunidades de diversas cidades e com realidades sociais e educacionais distintas. “Meninos que convivem com a violência, crianças analfabetas, com necessidades especiais, que estão no hospital, todos ganham essa oportunidade. Cada ambiente requer um tipo de atenção diferente”, explica.

A exibição de filmes, a presença de cantos torna o ambiente agradável para os leitores. As turmas são divididas por idade e saem, vão a salas de espera, de leitura (aconchegantes, coloridas, envoltas pelo lúdico) e pátios, são incentivadas pelos que participam do projeto (estudantes, voluntários, prestadores de serviço e professores) a explorarem os lugares. Outro ponto destacado no fim por Beatriz foi a importância da atividade para os universitários: “Eles contam com um espaço de vinculação e intervenção social, onde podem aplicar o que aprenderam em sala e, a partir da experiência, propor novas formas de intervenção”, completa.

Mediadores de leitura

O papel dos mediadores é selecionar livros e apresentá-los em voz alta às crianças, mas buscando fortalecer o vínculo família-biblioteca, por meio do trabalho com os pais. Ações como convidar o adulto a participar, a se sentar confortavelmente para estar no mesmo nível das crianças e tentar despertar neles o interesse pelas práticas de leitura na primeira infância fortalecem a proposta, por conta do suporte familiar.

"O grupo é formado por estudantes universitários, prestadores de serviço social e outros voluntários, que recebem um treinamento prévio e um acompanhamento durante a prática”, explicou Beatriz se referindo à equipe de seu projeto, que não recebe a mesma designação. Além de ajudarem a despertar o interesse pela leitura, os alunos relatam grande aprendizado prático por meio das interações que estabelecem, que tem relações diretas com seus cursos.

Confira os slides das apresentações de Edith Corona e Beatriz Soto