Classificados - Letra A 40

A descoberta de um ninho, reflexões sobre raça e gênero e projeto de fotografia


     

Letra A • Segunda-feira, 22 de Dezembro de 2014, 15:48:00

Como nascem as aves?

A descoberta de um ninho de beija-flor levou o conhecimento das crianças às alturas

Por Izabella Lourença

As aves que visitavam o Centro Municipal Criança Cidadã, em Goiânia (GO), despertaram grandes dúvidas entre as crianças da turma de Marluce Ferreira de Assis Costa, que queriam saber, entre outras dúvidas, se os pássaros nasciam da barriga da mãe. Observando esse interesse, a professora confeccionou um monóculo de papel e a busca por aves levou os alunos a encontrarem um ninho. A curiosidade aumentou: “de que animal era aquele ninho?” Assim a turma partiu para a investigação. Chamaram os pais para tentar descobrir, depois mandaram fotos do ninho para um biólogo, que constatou: era de um beija-flor.

Enquanto as crianças acompanhavam o ninho, Marluce levou um pombo para a sala de aula, para que elas pudessem conhecer melhor o corpo da ave e até tocá-la. “Eu também levei poesias, músicas, filmes e livros sobre pássaros e sobre preservação do meio ambiente”, conta Marluce.

Certo dia, alunos de outra turma derrubaram o ninho por acidente e as crianças se entristeceram. Mas a tristeza durou pouco, já que outro beija-flor começou a fazer seu lar na área da casa da auxiliar pedagógica da turma. Então, a professora passou a levar as crianças para visitar e acompanhar o novo ninho. Quando os alunos descobriram dois ovos de beija-flor, puderam compreender e visualizar como nasciam as aves. 

Dessa experiência, Marluce afirma que as crianças começaram a observar mais ao seu redor e a contar sobre os passarinhos que viam em casa. Assim, desenvolveram a oralidade, a memória e a atenção aos espaços que frequentam. “Para crianças na idade delas [3 anos], esse despertar é fundamental para absorver novos conhecimentos”, avalia Marluce.


Para crescer sem preconceitos

Escola promove reflexões sobre gênero e raça na Educação Infantil   

Por Izabella Lourença

Menino brinca de boneca? A questão que dá título ao livro de Marcos Ribeiro é constantemente trabalhada na Escola Municipal Julio de Castilhos, no Rio de Janeiro (RJ), que atende cerca de 50 crianças na Educação Infantil. A partir dessa leitura, os professores fazem uma brincadeira com os alunos: primeiro misturam brinquedos na sala de aula, depois apresentam uma caixa de menina e outra de menino, embaladas com cores diversas, buscando fugir do rosa e do azul. Então, cada criança deve pegar um brinquedo e colocar na caixa que considerar adequada, refletindo se ele é de menina ou de menino. Segundo a diretora, Esméria Freitas, cerca de 90% dos alunos ficam na dúvida sobre em qual caixa devem colocar cada brinquedo. Ao final, os professores apresentam a caixa única, onde todos os objetos são colocados, para a turma entender que meninos e meninas podem brincar do que quiserem.

O livro Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado, também é trabalhado ali, com o intuito de combater o racismo. Entre outros conflitos raciais, a obra destaca a autoestima das meninas negras e tem efeito sobre muitas alunas da escola. Após a leitura, as crianças manifestam suas compreensões por meio de desenhos, teatro e também no dia a dia. “Uma das meninas negras disse: ‘eu nunca pensei que eu fosse tão bonita’. E de um tempo para cá ela tem vindo de cabelo encaracolado e solto”, conta Esméria.

Na rotina escolar, os educadores da escola também desconstroem preconceitos. Entre outros exemplos, não há filas separadas para meninos e meninas, e brincar de casinha é livre para todas as crianças. A diretora se empenha nesse trabalho por acreditar que a escola tem um papel social para além do conteúdo programático. “Eu acredito em uma escola que educa para a vida, e educar para a vida está além de ensinar tabuada”, afirma.


Câmera na mão

Desde cedo, crianças vivenciam experiência estética da fotografia

Por João Vítor Marques

Com a câmera fotográfica na mão, os alunos de 5 anos do Núcleo de Educação da Infância da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal (RN), andam livres pelo pátio para registrar brincadeiras tradicionais da região. Carrinho de rolimã, pula carniça, pé de lata e outras brincadeiras recebem novos significados no projeto coordenado pela professora Maria de Fátima Araújo. O cenário foi baseado nas casas coloridas das pinturas de Ivan Cruz, artista plástico que retrata em suas obras brincadeiras do tempo de pais e avós das crianças. “Montamos peças grandes. Então aproveitamos para trabalhar proporcionalidade, grandezas e medidas, perguntando aos alunos: ‘que altura tem que ser a porta dessa casa para que todos possam entrar?’. Depois de tudo pronto, eles se arrumavam: uma hora fotografavam os colegas e, depois, eram fotografados brincando em frente às casinhas”, conta a professora.

A experiência foi programada para durar três meses. Antes de saírem com a câmera, os alunos participaram de uma oficina de fotografia. Lá, refletiram sobre as características e a importância dessa tecnologia, além de aprenderem recursos da fotografia, como o zoom e o enquadramento. As crianças foram levadas a espaços da escola para treinarem com plantas, quadros, brinquedos – e, depois, descreviam o que aparecia na câmera. “Trabalhamos com o olhar observador da realidade, mas sem muita preocupação com a técnica. Uma coisa bem adequada à lógica da Educação Infantil”, explica Maria de Fátima. Os alunos ainda conheceram o recurso da montagem, ao combinarem fotografias trazidas de casa com imagens que encontraram em sala. “Esse contato desde cedo é importante, pois temos que entender a fotografia como um outro tipo de texto, como uma arte pela qual a criança pode aprender e vivenciar experiências estéticas”, ressalta a professora.


Continue lendo

Classificados - Letra A 40 (parte 1): confira outros 3 projetos