O que é que tem na caixa preta?
Mesa redonda no II SIHELE aborda a dimensão histórica de métodos e materiais usados em sala de aula
Acontece • Quinta-feira, 25 de Julho de 2013, 11:24:00
Como se chega à caixa preta da sala de aula? Em uma noite de resgate à memória, a segunda mesa redonda do SIHELE, realizada na quinta-feira, 11 de julho, apontou para possíveis respostas a essa questão. As pesquisadoras Maria Helena Camara Bastos, Ana Chrystina Mignot, Maria Tereza Santos Cunha e Cancionila Kátia Janzkovski Cardoso compartilharam achados de suas pesquisas, que trazem diferentes abordagens sobre materiais didáticos para o ensino da leitura e da escrita. Para a debatedora Maria do Rosário Mortatti, as pesquisas evidenciam o modo como a história da alfabetização possibilita a compreensão das permanências e rupturas dos processos de ensino ao longo dos anos.
Escritas infantis, escritas de si
As falas de Maria Helena Bastos (PUC-RS), e Ana Chrystina Mignot (UERJ) trouxeram à tona questões acerca das escritas infantis, por meio da análise de cartas e cadernos escolares antigos. Maria Helena destaca a importância histórica da escrita infantil epistolar como elemento de compreensão da experiência das crianças. “As escritas infantis são escritas de si, em que o autor é objeto mais ou menos autêntico de seu texto”, afirmou a professora.
Ana Chrystina chamou atenção para a necessidade de políticas públicas específicas para a preservação desses materiais: “A preservação é condição para retirar as escritas infantis das zonas de sombra”. A pesquisadora aponta, por outro lado, os limites e as contradições da pesquisa nessa área, alertando para as armadilhas que cadernos e cartas escritos por crianças representam para o olhar. “É necessário desconfiar dos ditos e estranhar os não ditos”, ela sinaliza. “O pesquisador deve ser guiado apenas por uma certeza: nem todo o aprendido foi registrado, nem todo o registrado foi aprendido”.
Citando o escritor Julian Barnes, Maria Tereza Santos Cunha (UDESC) fez coro a esses questionamentos: “A história é aquela certeza fabricada no instante em que as imperfeições da memória se encontram com as falhas da documentação”. A professora falou sobre sua pesquisa com manuais escolares séculos XIX e XX, que busca compreender de que modo o Estado fez da leitura um saber escolarizado.
As relações entre sala de aula e o Estado foram também o tema abordado por Cancionila Kátia Janzkovski Cardoso (UFMT), que apresentou dados sobre o projeto “Novas Metodologias”, política pública do governo federal na década de 70.