Por um Pacto pela Educação Infantil
Terceiro e último encontro do ano encerra com pedidos de que a formação da EI iniciada em 2018 não acabe
Acontece • Quarta-feira, 09 de Maio de 2018, 16:54:00
Dando continuidade ao trabalho iniciado em março, cerca de 400 formadoras e formadores da Educação Infantil de Minas Gerais participaram, nos últimos dia 8 e 9 de maio, do terceiro e último encontro presencial do PNAIC Pré-escola 2018. No período da manhã, o encontro, ocorrido na Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, contou com uma abertura cultural e interativa, palestras, apresentação de projetos escolares e debate. Na parte da tarde, os formadores se dividiram em grupos menores e se encaminharam para salas de aula, nas quais foram trabalhadas as atividades de formação.
No primeiro dia, a abertura do evento ficou por conta da banda “Ibirité Abre a Roda” que, por meio de brincadeiras, músicas infantis, leitura e outras atividades que também podem ser trabalhadas em sala de aula, estimularam as participantes a interagir e a se colocar por um momento no lugar da criança. Posteriormente, a mesa de discussão foi formada, composta pela professora e pesquisadora da FaE Célia Abicalil Belmiro, a professora Camila Cristina Ferreira dos Santos, diretora da UMEI Grajaú em Belo Horizonte, e a pedagoga analista da Educação Infantil Laurimi Mendonça, da Secretaria Municipal de Educação de Governador Valadares.
Em sua fala, a professora Célia leu e discutiu alguns aspectos de determinados livros infantis e mostrou como essa análise também pode ser feita em outros. Nas leituras, ela se atentou a questões como a importância da literatura e a liberdade e conhecimentos que ela proporciona, o valor que os livros de literatura têm por conceder a noção de tempo e permitir penetrar no imaginário, e a questão de por que devemos dar literatura para as crianças. A professora enfatizou que a literatura as auxilia a compreender um mundo que pode ser compartilhado e que causa surpresas, e pode ajudá-las a se compreenderem melhor nesse mundo. Posteriormente ela também falou a respeito da função e da importância das ilustrações, que comentam, dialogam, discutem e discordam do texto verbal, além de ilustrar como a própria materialidade do livro se relaciona com as leituras das crianças.
Práticas de leitura que desafiam paradigmas
Em seguida, a professora Camila relatou sua experiência a partir do trabalho “Passaporte da Leitura”, realizado na UMEI em que ela trabalha. A partir da ideia de aproveitar melhor as experiências de leitura, foi organizado um projeto com o objetivo de estimular o desejo por ler, valorizar a imaginação, estreitar os laços familiares e a relação escola-família. A ideia inicial surgiu em 2016 com o nome “Livro vai livro vem, eu leio e você também”, com as crianças na faixa etária de 1 a 5 anos levando para casa nas sextas-feiras uma pasta com livros para serem lidos com a família. Entretanto, a partir das ideias levantadas pelo seminário de Maria Emília Lopes, o projeto se transformou, abrangendo também as crianças do berçário e se adaptando para atender as necessidades dos bebês. Foram enviados para casa textos explicativos juntamente com um livro e logo começaram a chegar relatos de como esse trabalho estava acontecendo e o resultado positivo que ele estava alcançando.
A pedagoga Laurimi Mendonça foi a próxima a fazer seu relato, contando a experiência vivida pelos professores da CEMEI Prefeito João Domingos Fassarella, localizada em Governador Valadares, que a partir da criação de espaços sensoriais, de leitura e de livros, transformaram o espaço físico da escola, aumentando o interesse e a interação das crianças com os livros e suas histórias. Essa transformação também veio acompanhada de uma ampliação nas possibilidades de apropriação dessas histórias pelas crianças devido ao uso de fantoches, encenações, registros de leituras dos mais variados tipos, entre outras estratégias. Em sua fala ela também contou como a escola desenvolve outros projetos, como o de hortas e o de visita à biblioteca da cidade, que permitem um contato com outras formas de leitura, incluindo quadros, receitas, textos informativos, entre outros.
Valorização da Educação Infantil
A abertura do segundo dia foi marcada por falas emocionadas das formadoras. Foi aberto o espaço, antes do início da mesa redonda do dia, para quem desejasse falar sobre a experiência do PNAIC. A professora de Betim Cristina agradeceu a oportunidade do encontro, afirmando que foi “muito enriquecedor”, mas ressaltando que a carga horária é pouca. “A gente quer mais, estamos sedentas de mais informações”, afirmou.
Já Kátia, da UMEI Silva Lobo, em uma fala emocionada, ressaltou que “é uma pena o PNAIC estar acabando” e que conheceu “pessoas maravilhosas” nos encontros. Para Leiliane, de Ibirité, o PNAIC serviu para mudar sua visão como mãe e como profissional de educação. “Eu sou uma professora e mãe melhor depois desse PNAIC”, acredita. Eliane, de Itueta, defendeu que o trabalho iniciado este ano não pode parar. “Independente de o PNAIC acabar, nós queremos continuar e nós temos que continuar”, defendeu.
Rosalba Rita, formadora regional do PNAIC e pedagoga da UMEI Pés no Chão, lançou a campanha “Por um Pacto pela Educação Infantil”, incentivando as formadoras e formadores presentes a, em uma espécie de “TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) do encontro”, mandar cartas para o correio eletrônico do MEC, reivindicando que a formação para a Educação Infantil continue, destacando a importância de uma formação que trabalhe as especificidades deste período da Educação.
Por fim, foi reproduzido um vídeo com imagens dos outros encontros e um poema ao final, em agradecimento e homenagem às formadoras e formadores que fizeram parte do PNAIC da Educação Infantil.
Importância da avaliação
A seguir, ocorreu a mesa redonda do dia, voltada para a discussão sobre avaliação e os instrumentos de registro e observação utilizados na Educação Infantil. A primeira fala foi de Ana Cláudia Figueiredo, da SMED (Secretaria Municipal de Educação) de Belo Horizonte, que relatou o processo que vem sendo realizado no município desde 2014 para pensar e realizar uma proposta de avaliação para a Educação Infantil na cidade.
Ana Cláudia destacou que houve uma preocupação de a proposta ser coerente com as concepções da Educação Infantil e de não só fazer uma discussão teórica, mas de também “dizer das práticas” efetivadas. “Nossa proposta não foi vivenciada por nós quando estávamos na escola, é radicalmente oposta a nossa experiência acadêmica em relação à avaliação”, que Ana Cláudia definiu ser por muito tempo (e ainda é em muitas escolas) de caráter classificatório e meritocrático.
Ela explicou que é sempre um desafio fazer discussões sobre avaliação, porque por mais que as professoras acreditam na ideia de que cada sujeito é único, ainda assim, na prática, as individualidades de cada criança não são consideradas. Ana Cláudia defende que é importante que as professoras compreendam a avaliação realizada, para oferecer outras possibilidades para a criança, não realizando, assim, uma avaliação com fim em si mesma. “Precisamos quebrar paradigmas, e fazer o exercício de alteridade, ver outros pontos de vista”, acredita.
Instrumentos avaliativos
As falas seguintes focaram na discussão sobre os instrumentos que podem ser utilizados pelos professores para suas avaliações na Educação Infantil, a partir de relatos de experiência de UMEI’s de Belo Horizonte. Juanice de Oliveira Vasconcelos, da UMEI Ipiranga, trouxe discussões realizadas pelas professoras sobre esses instrumentos. Ela explicou que a avaliação gera inquietação, porque é muito vista ainda como instrumento para informar as famílias, quando também são importantes para guiar as práticas dos professores.
Juanice destacou que a avaliação oferece novos caminhos, já que a revisão do trabalho a partir da avaliação oferece outro cenário. Além disso, avaliações também são importantes para as professoras realizarem trocas entre si. Logo após, ela explicou como utilizam os instrumentos de avaliação em sua UMEI, que são: mural, livro da turma, portfólio, diário de bordo e relatório.
Em seguida, Beatriz Barbosa e Solange Ferreira, da UMEI Ouro Minas, falaram sobre o trabalho desenvolvido nessa unidade. Beatriz explicou que o objetivo é tocar as professoras com a ideia de que a avaliação é “parte do processo”, e não instrumento de punição ao aluno, como frequentemente é utilizado.
Ela defendeu que o professor precisa entender o processo de aprendizado do aluno e que a avaliação serve para ajudar nessa prática. Além disso, ressaltou que “o professor acha que a avaliação só serve para avaliar o aluno”, quando deveria servir também para se avaliar. Para finalizar, explicou o processo da UMEI Ouro Minas, que trabalhou com instrumentos como ficha de avaliação, relatório descritivo, portfólios em turmas do período integral e quadro de pregas. A professora Solange, em seguida, falou brevemente sobre os passos que segue em seus relatórios, destacando a importância da escuta das crianças. “A todo o momento, estou escutando, observando e registrando”, explicou.
Por fim, foi realizado um breve debate a partir de perguntas elaboradas pelo público formador.
Confira na íntegra, em vídeo, as atividades do período da manhã do primeiro e do segundo dia do encontro.