A leitura no mundo digital
Entrevista com Carla Coscarelli sobre tema do próximo Ceale Debate
Acontece • Segunda-feira, 15 de Abril de 2013, 17:30:00
Leitura em novas plataformas, navegação, acesso à informação, educação digital. Esses são alguns conceitos que fazem parte do dia-a-dia de Carla Viana Coscarelli. Carla é professora e pesquisadora da Faculdade de Letras da UFMG e há mais de dez anos tem pesquisado a leitura em ambientes digitais. A professora será a palestrante do próximo Ceale Debate, que acontece no dia 16 de abril na FaE. Em conversa com a equipe do Ceale, Carla conta algumas de suas experiências de pesquisa e dá uma ideia do que será debatido no evento. Confira abaixo.
A presença das novas tecnologias e, consequentemente, das novas plataformas de leitura muda a maneira com que as pessoas leem e lidam com a literatura?
Acredito que sim. Em minhas pesquisas não encontramos grandes diferenças na leitura em si e no que a pessoa processa, quando lê um texto impresso ou digital. Apesar disso, eu acredito que a navegação pode enriquecer a leitura, na medida em que a pessoa tem a possibilidade de buscar mais textos e informações. A grande virada da leitura digital é o maior acesso à informação, de forma rápida e fácil. Até pouco tempo, para fazer uma busca por informações extras, era necessário ter acesso a bibliotecas, livros ou jornais. Com a internet, basta o leitor digitar o conceito que quer e recebe inúmeras informações, de dicionários a artigos científicos. Hoje, uma mesma máquina possui vários aplicativos de edição, câmera fotográfica, filmadora e gravador. Isso possibilita uma maior produção de textos multimodais, o que vai ter como consequência o maior acesso.
E no âmbito do ensino? O que muda com esse ambiente multimídia?
Estou fazendo uma pesquisa sobre isso, em que monitoramos teses e atividades do Portal do Professor que estão relacionadas aos ambientes digitais. O que podemos perceber é que existe uma tentativa de incorporar as novas tecnologias ao ensino, mas essa abordagem ainda é muito tímida. Certamente existem motivos para manter as tradições e não seguir modismos, mas é necessário perceber que os computadores já fazem parte do cotidiano de muitas crianças. Na minha opinião, o que precisamos, agora, não é apenas ensinar os meninos a mexer nas máquinas, mas deixar claro que existe algo muito mais rico por trás da navegação do que ficar no Facebook ou em um chat. Nada contra Facebook, mas existe mais do que isso. Outra coisa muito importante é trabalhar com uma noção mais ampla de educação digital. É preciso discutir situações como deixar o celular ligado no cinema, atendê-lo durante a sessão ou deixar de interagir com colegas por estar no Facebook. Como comentar o que os outros postam nas redes sociais? O que postar? Acho que essas questões éticas e morais muitas vezes não são refletidas e ensinadas.
Que habilidades são exigidas dos leitores nos ambientes digitais?
Muita gente acha que é tudo diferente, mas na realidade não é. É necessário saber o que são sites e informações confiáveis. Isso é um pouco diferente. Por outro lado, as outras habilidades são as mesmas da leitura de um impresso: perceber o tema central, manter o foco, fazer inferências, localizar informações, saber relacionar frases, observar quem escreveu, perceber o contexto do texto. Se a pessoa não consegue fazer isso no impresso, também não vai conseguir no digital. Nesse ponto, a aprendizagem é uma questão de direção sobre a qual temos que pensar. Antes, nós aprendíamos o impresso e, depois, começávamos a lidar com o computador. Hoje, as crianças estão aprendendo muito com o computador e precisamos mostrar a elas a importância do impresso. O que é melhor aprender primeiro: a escrever à mão ou aprender a digitar? É possível aprender as duas coisas de forma conjunta? É preciso rever essas ideias, porque a sociedade mudou. Para mim, o melhor seria aprender de forma conjunta. Não é questão de jogar o impresso fora e falar que tudo tem de ser digital. O cinema, por exemplo, não acabou com o rádio. Cada um tem seu espaço.
Como o professor pode desenvolver essas habilidades nos alunos?
Eu acho que só há um jeito: praticando. A mania que a escola tem de querer ensinar demais me incomoda. Antes era necessário explicar tudo com detalhes, porque não havia livros ou textos para todos. Com o computador, existe a possibilidade da criança aprender muita coisa sozinha. Isso não quer dizer, também, que é para fazer os alunos pesquisarem ou fazerem trabalhos sem contexto ou objetivo, como muitas vezes acontece. Por exemplo, muitos professores falam para os alunos pesquisarem sobre montanhas, mas não dão foco para a pesquisa. A chave hoje é descobrir as perguntas que os alunos querem responder e deixá-los saírem atrás de respostas.
Para mais informações sobre o Ceale Debate: (31) 3409-5334 ou cealedebate2013@gmail.com