Letramentos, no plural

5º Colóquio Internacional sobre Letramento e Cultura Escrita trouxe à UFMG troca de experiências entre pesquisadores brasileiros e de outros seis países


     

Acontece • Quarta-feira, 13 de Agosto de 2014, 14:11:00

“Trata-se de um colóquio porque é um formato que permite conversas e debates“, afirmou o coordenador do evento Gilcinei Carvalho, na abertura oficial do 5º Colóquio Internacional Letramento e Cultura Escrita, que ocorreu na Faculdade de Educação (FaE) da UFMG entre 12 e 14 de agosto. Estiveram presentes na mesa de abertura a diretora da FaE, Juliane Corrêa, a também coordenadora do evento Maria Lúcia Castanheira, a coordenadora da pós-graduação em Educação da FaE  Maria da Conceição Ferreira, e a diretora do Ceale, Isabel Frade, que agradeceu as contribuições dos estudantes de graduação e pesquisadores que contribuem para o campo de estudos dos letramentos na UFMG. Gilcinei Carvalho fechou a abertura do evento, que contará com a participação de pesquisadores de sete países, falando sobre a importância de se reunir diversos olhares e abordagens do letramento: " O objetivo é ampliar não somente a geografia da discussão, mas a diversidade de influências sobre o assunto”.


Mesa redonda "Práticas de Letramento: um campo interdisciplinar"

A primeira mesa redonda do Colóquio tratou do letramento ligado às questões sociais. Brian Street, da universidade britânica King´s College, apresentou o questionamento “que tipo de letramento, para qual propósito?”, ao lidar com os letramentos sob uma perspectiva etnográfica, que leva em conta o contexto social e como as pessoas se relacionam com a cultura escrita. O professor da Ohio State University David Bloome apresentou um estudo de caso de duas escolas nos Estados Unidos, com alunos de origem socioeconômica distinta, relacionando essa questão com a forma como as duas turmas se relacionaram com determinado livro e seus personagens.

A primeira mesa redonda do Colóquio tratou do letramento ligado às questões sociais. Brian Street, da universidade britânica King´s College, apresentou o questionamento “que tipo de letramento, para qual propósito?”, ao lidar com os letramentos sob uma perspectiva etnográfica, que leva em conta o contexto social e como as pessoas se relacionam com a cultura escrita. O professor da Ohio State University David Bloome apresentou um estudo de caso de duas escolas nos Estados Unidos, com alunos de origem socioeconômica distinta, relacionando essa questão com a forma como as duas turmas se relacionaram com determinado livro e seus personagens.


Mesa redonda "Interculturalidade, Multimodalidade e Escolarização"

A pesquisadora Judy Kalman, do Centro de Investigación y de Estúdios Avanzados (México) iniciou o evento falando um pouco sobre a tecnologia como auxilio no processo de ensino da leitura e da escrita, e destacou como a alfabetização gera civilidade e democracia. Maria Zélia Versiani, pesquisadora do Ceale, falou sobre perspectiva metodológica de pesquisa sobre práticas de letramento escolares e não escolares em contexto rural. A pesquisa conta com Diários de Participantes, escritos por alunos de Escola Família Agrícola – EFA – de Minas Gerais. A última palestrante, Virgínia Zavala, professora e pesquisadora da Univerdad Católica de Lima (Peru) falou sobre a literatura e tradução no processo de ensino da quéchua, língua indígena da América do Sul, uma das línguas oficiais do Peru


Mesa redonda "Letramentos acadêmicos em diferentes níveis de ensino"

A pesquisadora Alma Carrasco, da Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (México), apresentou seus estudos com foco na leitura, produção e comunicação científica por alunos de doutorado de ciências exatas. Dentre as especificidades dessas práticas de letramento, estão a co-autoria e as intervenções e feedback constantes de colegas de pesquisa e professores.
Raquel Fiad, pesquisadora da Unicamp, apresentou os resultados de sua pesquisa baseada em textos de alunos do curso de Letras de sua universidade, observando os comentários e sugestões feitas por colegas no trabalho e a reescrita, ou não, a partir deles. Melissa Wilson, da Ohio State University (Estados Unidos), apresentou pesquisa feita com crianças de 6 anos em letramento acadêmico. O projeto, que se desenvolveu durante todo um ano letivo, propunha às crianças escreverem perguntas em cartões baseado-se nos livros de ciências que liam. A professora discutia com os alunos para decidir quais eram “perguntas boas” – aquelas para quais os alunos ainda não tinham respostas. Após selecionarem as perguntas, os alunos eram responsáveis por produzir trabalhos que explicassem a dúvida aos colegas.


Mesa redonda "Letramentos iniciais em contextos escolares e não escolares"

Pesquisadora da Ohio State University (EUA), Laurie Katz falou sobre a necessidade de integrar as crianças com “direitos especiais” em turmas comuns (o que historicamente não acontecia nos EUA), e trazer discussões sobre inclusão para a sala de aula de modo a transformar o ambiente que inicialmente pareceria impróprio para a aprendizagem. Laurie é uma das mentoras de um projeto desenvolvido com professores de Israel e EUA, que discutem experiências e estratégias, em plataforma online, de adoção de livros infantis que tratem do tema.  Ana Carolina Perrusi Brandão, professora da Universidade Federal de Pernambuco, continuou a discussão abordando a necessidade de se escolher corretamente os livros para as crianças de zero a seis anos (não apenas adequá-los ao conteúdo a ser estudado) e compreender a mediação feita pelo professor. “É mais que ler livros ou adquirir conhecimento literário, é ter atividade crítica e alimentar a imaginação por meio da literatura”, destaca. Fechando o segundo dia do Colóquio, Mônica Baptista Correia, pesquisadora do Ceale, destacou a necessidade de inserir a língua escrita já na educação infantil, pois as crianças conseguem, desde cedo, compreender e interpretar certas estruturas. Mônica concluiu lançando questionamentos a respeito de que práticas relacionadas à leitura e à escrita devem ser trabalhadas na Educação Infantil.


Mesa redonda "Práticas culturais, diversidade e identidades"

Elaine Richardson, da Ohio State University, exemplificou os preconceitos étnicos, linguísticos e culturais contra as comunidades negras nos Estados Unidos. A discussão prosseguiu com a pesquisadora Elisa Cragnolino (Universidade Nacional de Córdoba), que abordou histórica e culturalmente a educação numa sociedade camponesa no norte de Córdoba (Argentina), marcada pelo deslocamento para as cidades. A professora da Faculdade de Educação da UFMG Shirley Miranda fez apontamentos sobre eventos de letramento na comunidade quilombola de Santo Izidoro, no interior de Minas Gerais. O fechamento da mesa de debate ficou por conta da pesquisadora Mollie Blackburn, também da Ohio State University, que trouxe a história de Kai, uma criança que desafia as estruturas padronizadas de gênero e sexualidade, nos Estados Unidos.


Mesa redonda "Perspectivas para uma história do letramento e da alfabetização"

A última mesa de discussão do 5º Colóquio teve participações do americano Harvey J. Graff e da francesa Anne-Marie Chartier, para falar sobre o tema Perspectivas para uma história do letramento e da alfabetização. Em sua fala, Harvey citou a importância da desconstrução da cultura escrita, em respeito à dinâmica perspectiva do estudo do letramento, de sua recontextualização, redefinição e reconstrução. Já Anne-Marie apresentou a história do letramento e da alfabetização a partir do panorama francês.


Encerramento

“Depois de nos aproximar das experiências de outros profissionais da educação, refletir e pensar no nosso lugar como educadores, terminamos com ainda mais questões e provocações”. Foi assim que a coordenadora do evento e pesquisadora do Ceale, Maria Lúcia Castanheira, encerrou 5º Colóquio Internacional sobre Letramento e Cultura Escrita. Junto a ela, estavam a diretora do Ceale, Isabel Frade, e o também coordenador do evento, Gilcinei Teodoro Carvalho. Os três agradeceram à equipe da organização, aos tradutores e aos técnicos de som e imagem, e disseram que já começam agora a pensar a sexta edição do evento.