Palestras abrem semana de formação do Pnaic

Discussões sobre mediação literária e leitura expressiva e sobre formas e espaços, na Matemática, marcaram o início da formação do mês de julho


     

Acontece • Segunda-feira, 28 de Julho de 2014, 22:23:00

Após dias melancólicos para a literatura nacional, com a partida de três dos maiores formadores de leitores do país (Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro e Rubem Alves), o auditório Neidson Rodrigues recebeu, na manhã desta segunda-feira (28), orientadores de estudo de 100 municípios mineiros para a abertura da semana de formação do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). As atividades iniciais já marcaram o tom do encontro, passando pela Língua Portuguesa, ao tratar da mediação literária e da leitura expressiva, e pela Matemática, novidade do segundo ano do programa, com discussões sobre as noções de espaço e formas que têm os alunos do 1º ciclo.

Sempre pontuando que o texto por si só não diz nada, delegando o papel de construtor e produtor de sentidos ao leitor, o professor da FaE e pesquisador do Ceale Carlos Augusto Novais colocou em evidência a importância de se entender o propósito que leva alguém a ler. A relação com um texto pode se dar de várias formas: há quem leia por prazer, há quem leia por “exigência social”, para fazer parte de um grupo, há que leia para passar o tempo, à espera da consulta no dentista. E é o tipo de relação estabelecida que determina o tom da leitura, o engajamento do leitor e seu respectivo esforço ao lidar com o código. O objetivo do professor, segundo Carlos, seria o de despertar o engajamento da turma com as leituras, fazendo coincidirem o interesse da escola com o gosto literário do aluno, para que então os interesses sociais se realizem. Não existem fórmulas para alcançar esta finalidade, mas Carlos Novais aponta a leitura expressiva como um dos possíveis caminhos: “A leitura expressiva não é a única, nem a melhor, maneira de se ler. Mas é um modo extremamente importante, pois facilita o engajamento do aluno, e está muito próximo da literatura, então o prazer é mais provável”. Associar o texto, o corpo e a situação de leitura é essencial, não basta pintar os alunos e fazer fantasias para a leitura ser por deleite. “É preciso ‘ler os elementos do vazio’ para que a leitura seja expressiva, perceber o texto como uma partitura em que o leitor precisa emitir toda a significação do texto”, afirma o professor. Desse modo, o mediador literário age favorecendo as condições de leitura do aluno, despertando seu interesse e colocando-o em busca de uma “autonomia” ao ler.

A discussão prosseguiu com a palestra da professora do centro universitário Uni-BH Márcia Hauss, que chamou atenção dos alfabetizadores para a necessidade de se atentar ao trabalho com as noções de espaço, localização, formas geométricas e pontos de referência. “Não é só conhecer as formas e as propriedades da geometria plana e espacial, temos que fazê-los entender a questão de espaço. E a alfabetização é a hora certa, pois eles (os alunos) têm disposição de imaginar situações, percorrer caminhos, eles se abrem para isso”, aponta a professora.

Com diversas intervenções dos alfabetizadores que assistiam à palestra, o ambiente se transformou em espaço de troca de ideias e compartilhamento de atividades. Nesse sentido, Márcia Hauss sinalizou que, para desenvolver o senso de espaço, é preciso vivenciar, deixar inicialmente os livros e os mapas de lado e fazer as crianças se deslocarem, criarem percursos. Só após esta primeira etapa de percepção, chamada de “espaço vivido”, e de outras atividades que constituem a sequência didática por ela apresentada, é que os alunos terão possibilidade de criar mapas, de fazer certas atividades propostas pelos livros. Esse momento inicial também é propício para se adquirir um vocabulário próprio que auxilie os alunos a compreender e a transmitir informações de localização, de sentido (direita, esquerda), de espaço (dentro, fora, de um lado, de outro). Para isso, a Márcia Hauss propôs uma série de atividades divididas em cinco momentos, que envolve desenho, atividades em grupo, questionamentos à turma, criação de mapas, jogo de colocar o rabo no burro e, especialmente, deslocar-se, compreender o espaço em que se está inserido.

A programação do II Encontro de Formação PNAIC segue até o dia 31 de julho, com conferências e oficinas que são divididas em 120 horas para Matemática e mais 40 horas para reforço da formação em Língua Portuguesa. 

Na parte da tarde, outras duas palestras marcaram a formação destinada aos coordenadores locais do Pnaic nas secretarias de educação. Confira a cobertura.

Por João Vítor Marques