Leituras em Conexão tem encerramento de curso na Faculdade de Educação
Último encontro tem exposição de projetos de leitura de escolas municipais e palestra do pesquisador do Ceale Rildo Cosson
Acontece • Segunda-feira, 10 de Dezembro de 2018, 15:30:00
Foi encerrado no último dia 4, na Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, o curso “Formação de articuladores de leitura das escolas municipais de Belo Horizonte” do projeto Leituras em Conexão, uma parceria da Secretaria de Educação da Prefeitura de Belo Horizonte (SMED/BH) com o Ceale. Ao longo de dez encontros presenciais, o curso teve o objetivo de estimular a institucionalização de projetos de leitura nas escolas públicas do município, promovendo articulação entre as propostas existentes.
O encontro final, na FaE, teve no primeiro momento uma exposição de projetos de leitura por meio de banners, apresentados pelos professores e bibliotecários que participaram do curso, realizados em escolas municipais de Belo Horizonte. Confira as propostas de alguns dos projetos expostos nos vídeos a seguir, na playlist em nosso canal:
No segundo momento do encontro, houve mesa de encerramento do curso e uma palestra final do pesquisador do Ceale Rildo Cosson. O coordenador do curso pelo Ceale e professor da FaE Carlos Augusto Novais abriu a mesa de encerramento afirmando que acredita, após a leitura dos banners, que a “meta principal” do curso, de institucionalizar programas escolares de leitura, está sendo encaminhada. “Parece que estamos no caminho certo”, disse Carlos. Para o coordenador do curso, este curso é um “primeiro ciclo que se fecha”, apontando outras possibilidades e rumos. Não há oficialização ainda de uma continuidade do projeto no ano que vem.
O vice-diretor da FaE Wagner Auarek e a diretora do Ceale Francisca Maciel valorizaram a presença dos professores na Universidade e a energia encontrada na socialização dos banners. Para Wagner, momentos de reunião como os do encontro servem para “mostrar que os profissionais da educação não vão soltar a mão”, referindo-se ao momento político atual. Já Francisca afirmou sua empolgação com as leituras que fez dos projetos expostos: “saber que [os projetos] são fruto do trabalho de vocês é algo que dá energia e esperança naquilo que podemos fazer”, disse.
A professora Noara Maria de Rezende e Castro, da coordenação geral do Leituras em Conexão na SMED/BH, destacou a persistência dos cursistas em participarem dos encontros que ocorreram sempre aos sábados e agradeceu às escolas anfitriãs pelos espaços utilizados pelo curso. Noara chamou atenção para o compromisso que os articuladores formados pelo curso têm de implementar os planos de leitura em 2019 nas escolas, afirmando que a SMED irá acompanhar esses planos e prometendo que será feito esforço para o curso ser continuado.
Leitura literária para todos
Na sequência, o pesquisador do Ceale Rildo Cosson abriu sua palestra externando sua felicidade em constatar, com a leitura dos banners, que os professores não só estão “no caminho certo, com estão fazendo acontecer”, com seus trabalhos com leitura literária nas escolas. A palestra teve como guia a leitura antecipada de Rildo dos banners, para que ele comentasse e reforçasse aspectos importantes para a formação literária.
O professor Rildo Cosson pesquisa há muitos anos sobre letramento literário
Um dos aspectos que Rildo frisou, a partir de sua leitura dos projetos expostos, inicialmente, foi a valorização de uma ideia de “comunidade de leitores”, destacado por uma escola. “É um trabalho coletivo e que requer tempo”, Rildo concordou, apontando a importância de valorizar esse trabalho coletivo.
Em outro trecho escolhido por Rildo, uma escola destaca que os projetos que não foram realizados durante o ano serão levados para o ano seguinte. O pesquisador do Ceale concordou com a proposta, incentivando que os projetos sejam levados para frente.
Rildo também destacou a utilidade de criar um calendário e divulgá-lo, para que todos tenham conhecimento das atividades de leituras que serão realizadas; a importância do envolvimento de todos em todas as etapas dos projetos e de o articulador de leitura atuar para promover uma comunidade de leitura; e destacou a necessidade de fazer com que todos frequentem mais a biblioteca e de se propor mais atividades de leitura para os alunos.
Em seguida, Rildo fez ponderações acerca de alguns princípios do letramento literário que gostaria de frisar. O pesquisador alertou que muitas atividades propostas estão baseadas na voz e na oralidade, e que é necessário diferenciar “oralizar” e “ler em voz alta”. “Oralizar um texto pode ser feito através de uma leitura da memória. Quando leio o texto, está na minha frente. Esse exercício para o aluno é difícil.” Rildo explicou que a leitura em voz alta não deve iniciar uma atividade, e que o aluno precisa compreender o texto primeiro para depois ler em voz alta.
Outro alerta de Rildo foi em relação à “questão do prazer”, chamando atenção para a preocupação muitas vezes do professor de agradar o aluno, trazendo apenas leituras que sejam de gosto dos estudantes. “É possível ter prazer em conhecer, em ser desafiado. Se queremos formar adultos conscientes, eles precisam passar por momentos em que são desafiados a fazer o que não fariam por bel prazer”, defende.
Rildo também argumentou que é preciso se atentar para a complexidade dos textos, destacando que o simples não é sempre o que é pequeno. “Poemas líricos podem ser pequenos, mas a intensidade do processo poético ali o torna muito difícil de ser lido, por exemplo.” Rildo explica que é preciso estabelecer ordens de complexidade crescente, trazendo diversidade de gêneros e temas.
Além de construir um repertório em torno de gêneros e temas, também é necessário ensinar ao aluno modos de ler, sendo fundamental ensiná-lo a ler ‘literariamente’ o texto. “Eu posso ler um texto literário de forma documental ou de forma funcional, ignorando que é um texto literário. Ler literariamente é buscar os sentidos que o texto traz através daquela negociação que se estabelece entre autor e leitor através do texto.”
Rildo apontou que a literatura é uma forma de escrever, mas também de ler. “São as duas coisas juntas que fazem a experiência literária”, afirma. Como dois últimos pontos, o pesquisador frisou que é necessário combinar leitura extensiva e intensiva – ajudando assim o aluno a construir um repertório e também a ler com profundidade – e promover um momento inicial de motivação, oferecendo contexto ao aluno para que ele possa ler adequadamente o texto.
Por fim, Rildo fez o apelo de que as escolas façam mais círculos de leitura. “O circulo não tem restrições, são para qualquer idade e com qualquer tema.” Ele sugeriu a leitura de sua explicação sobre como fazer um círculo de leitura, presente no Glossário do Ceale.
Assista à palestra do pesquisador na íntegra em nosso canal:
Os encontros
Confira o que ocorreu em outros encontros do curso ao longo do ano.
Fotos: Jornalismo Ceale